O virtual e o real

16 08 2009
Natal

Natal. A foto é de Canindé Soares.

Nesta próxima semana, estou mudando minha base para Natal. E para você, que chegou aqui há pouco tempo e não está entendendo, eu explico. Morei do meu nascimento até 1969 em Campina Grande-PB. De 1970 a 1977 vivi em Natal, onde fiz Faculdade; depois, foram dois anos em Recife fazendo Mestrado (78 e 79) e voltei a Natal, em 1980, ficando lá até 2005. Aposentada, gostando de variar, querendo viver entre Recife e Campina, estabeleci minha base em João Pessoa, perto de tudo, inclusive de Natal.

Amo Natal. É a cidade que me acolheu em 1970, onde cheguei sozinha, anônima, com uma mão na frente outra atrás, e lá “me fiz”. Estudei, trabalhei, amei, casei, tive meus filhos e eles tiveram meus netos. Já a Parahyba é mais do que a minha terra: é minha Pátria, tão “íntima doçura e vontade de chorar” que para ela escrevi um livro apaixonado, o “Coração Parahybano”. Não consigo me decidir entre Natal e a Parahyba. Fico com as duas.

Minha sala, na Parahyba.

Minha "base".

Essa história de “base” é porque eu não quero mais morar em lugar nenhum. Não quero me comprometer com nenhuma cidade, com nenhum lugar físico, nenhuma casa ou apartamento. Por outro lado, tenho meus 1.800 livros, minhas coisinhas, meus trocinhos, minhas coleções, meus CDs e DVDs, porta-retratos e quadros, a poltrona macia, a cama fofa, e essas coisas mais do que eu precisam habitar um lugar fixo, protegido de chuva e de vândalos. Quando baixa o encosto da cigana Gipsy, eu tranco a porta e me dano no ôco do mundo, mas minhas coisinhas precisam ficar protegidas, limpas e arrumadas para quando eu voltar.

Penedo, e o rio São Francisco.

Penedo, e o rio São Francisco.

A base agora vai ser em Natal, mas se eu me aborrecer lá me mudo de novo. Tenho vontade de morar em Manaus, para sentir a respiração da floresta e o rumor do rio, ou em Florença, na Itália, perto das obras imortais dos mestres renascentistas, ou ainda em Penedo, Alagoas, não me perguntem porque. Talvez faça isso, em algum lugar do futuro. São cidades que vivem me chamando o tempo todo, me acenando com seus mistérios, me estimulando com sua arquitetura, me instigando com suas lendas.

O engraçado disso tudo é que muita gente reclamou porque eu vou sair de João Pessoa para Natal. Mas minha gente! Eu vivo dentro de casa, não vou a lugar nenhum, não frequento, não vou a eventos, não tenho vida social presencial. Então para mim e para os outros, tanto faz eu morar em João Pessoa, como em Natal como no Raio-Que-Me-Parta. Em julho eu estava em Natal e encontrei uma pessoa amiga que não sabia que eu, há quatro anos, estava com minha base estabelecida em João Pessoa. Para ela, eu jamais havia saído de Natal. “Mas Clotilde” me disse, “você está todo dia na minha caixa de email, e eu lhe vejo o tempo todo no Twitter e no MSN. Para mim, você nunca saiu daqui.”

Raciocine comigo, meu caro leitor. Os adjetivos “virtual” e “real” sempre são colocados como opostos. Mundo virtual x mundo real. Mas está errado. O oposto de “virtual” não é “real”: é “presencial”, porque tudo, tudo, o virtual e o presencial, tudo é real. Eu aqui agora falando com você na dimensão virtual deste blog não é real? Se isso não for real, não sei mais o que é realidade. Presencialmente, de hoje em diante, tanto posso estar aqui como ali; virtualmente também há a Internet e todas as suas instâncias. E tudo, tudo é Real, como Real é o espaço do meu Coração, sempre habitado, em imensa algazarra, em clima de eterna festa, por você que me lê agora e por todos os meus outros leitores.