Você cumpre seus horários?

30 11 2009

Pense assim: se você fosse ganhar dez centavos por cada hora que já passou esperando por alguém que estava atrasado, você seria quase milionário, não é? Eu, com certeza, seria.

Vivemos numa sociedade – pelo menos no Brasil, que é onde eu vivo – onde é praxe não se respeitar horário. “Ninguém chega na hora mesmo”, dizemos, e saímos calmamente com 10, 15, 30 minutos de atraso para os nossos compromissos. Chagamos ao ponto de reclamar quando as coisas começam na hora, como vi uma vez, num seminário que fiz em Natal. A programação incluía um show de encerramento de nada mais nada menos que os Titãs, um show fechado somente para os participantes, marcado para as 21h30. Na saída do show, às 22h45 mais ou menos, havia pessoas revoltadas pois haviam chegado há pouco e o show já havia terminado. Acostumadas com os espetaculares atrasos desse tipo de evento, chegaram uma hora depois.

No tempo em que eu gostava de fazer festas – década de 1980, época das grandes festas na minha casa da rua da Saudade – eu marcava o fuzuê para as nove da noite mas as pessoas só começavam a chegar à meia-noite; se eu marcasse para a meia-noite, chegavam às três da manhã, para espanto de estrangeiros que eventualmente estavam entre os convidados e que chegavam na hora certa. Lá ficava eu, entretendo esse povo até a multidão chegar, com três horas de atraso.

Os alunos chegam atrasados nas aulas – e o professor também (na UFRN, onde ensinei por quase 30 anos, era assim). A faxineira, o jardineiro, o pedreiro, ninguém chega na hora e nós, como ficamos esperando por eles para poder sair, nos atrasamos também, gerando um efeito em cascata difícil de controlar.

O pessoal que vem dar assistência técnica à TV por assinatura ou à máquina de lavar marca o dia, mas não marca a hora. E se dizem que estão vindo no “primeiro horário” – esta entidade abstrata que pode ser qualquer coisa – pode ter a certeza de que chegarão às cinco e meia da tarde, quando você já perdeu o dia inteiro esperando por eles.

No consultório médico é que a coisa é mais grave. Antes eu escolhia meus médicos pela competência técnica, pelo currículo, queria saber onde tinha feito residência, qual serviço havia frequentado na especialização. Agora não. Agora procuro aqueles que atendem com hora marcada, embora sejam muito raros; e quando não encontro, seleciono o profissional pelo conforto das poltronas da sala de espera ou pela presença de rede wi-fi para me distrair navegando na internet durante as três ou quatro horas que sei que vou passar ali.

E imagine como seria interessante a vida se os ônibus urbanos tivessem hora certa para passar nos pontos. Fico imaginando como deve ser viver num país onde se cumpre horários, na Inglaterra, por exemplo, onde há um trens que passam às 13h52, nem mais nem menos.

O que fazer? Para mim, só tem uma solução: romper com o padrão de atraso. Sempre fui considerada chata e “casquinha” pelos alunos porque começava as aulas na hora. Mas isso era somente no início, porque depois eles se acostumavam e passavam a chegar no horário. Cumprindo os compromissos na hora, cada um de nós estará dando o exemplo e rompendo com o padrão de atraso e perda de tempo que aflige todo mundo, gerando estresse, desperdício de horas preciosas e gasto de dinheiro.

E você, meu caro leitor? O que acha disso tudo? Você acha que devemos assumir mesmo o jeito atrasado de ser ou que devemos romper com o padrão? Fica a pergunta.





A beleza de Natal

29 11 2009

Nas fotos de Sandro Fortunato, um pouco da beleza de Natal, nas margens do Potengi.

Pôr-do-sol no rio Potengi. Natal-RN. Foto de Sandro Fortunato.

Um gato na janela. Natal-RN. Foto de Sandro Fortunato.

Aprendendo o ofício desde cedo. Natal-RN. Foto de Sandro Fortunato.

A camisa do garoto é o desejo de todo rubronegro neste domingo: a vitória do Mengo. Eu também quero.





Mala de viagem

28 11 2009
Quando eu vim do sertão
Seu moço, do meu Bodocó,
A malota era um saco
E o cadeado era um nó…

É assim que começa a música Pau de Arara, de Luiz Gonzaga, onde descreve a “mala” e o “cadeado”. Pensando nisso, e como hoje estou meio sem assunto, separei para você essas malas, úteis e inseparáveis companheiras quando nos aventuramos pelo meio do mundo.

A mala da menina. Achei aqui, com dicas importantes sobre viagens com a criançada.

Arrumar as malas? Aprenda aqui.

Mais dicas.

E esse conjuntinho bem básico, bem Vuitton? Aqui.

A Vuitton é tão linda e tão chique que se garante até como mesa de cabeceira! Aqui.

Não tenho culpa do meu bom-gosto. É Vuitton de novo, um escritório completo dentro de uma mala.

E, finalmente esta outra – que não é Vuitton – e foi transformada numa estação completa de maquilage…





Dez em matemática

27 11 2009

Sempre gostei de Matemática e também sempre me saí bem nessa matéria, talvez porque nunca tenham me dito que era difícil. Aliás, meus pais me criaram dizendo que nada era difícil e que eu podia fazer o que quisesse contanto que me interessasse e tivesse dedicação. Por isso, quando entendi que muita gente achava a Matemática uma coisa dificílima e vim a notar que a maioria dos meus colegas de classe a detestavam, não adiantava mais: eu já gostava dela.

Parece disseminada a idéia de que quem gosta de matemática não tem temperamento artístico ou literário. E a maioria dos artistas e intelectuais afirmam, em tom brincalhão, que nunca foram bons alunos de Matemática. Quem gosta dela é considerado quase um prodígio e nenhum “dez” é mais importante e goza de maior status do que aquele “dez” que se tira na prova de Matemática.

Malba Tahan

A Matemática sempre me deixou maravilhada. Aos onze anos, no então chamado curso ginasial, que equivale hoje à quinta série, comecei a estudar álgebra que, junto com a Geometria euclidiana me deixava horas em êxtase, achando genial a idéia de que se pudesse substituir quantidades por letras, ou que duas retas eram paralelas se estivessem em um mesmo plano e não possuíssem qualquer ponto em comum. Depois, muito tempo depois, vim a saber que isso se aplicava apenas a esse mundinho corriqueiro do nossso dia-a-dia, e que matemáticos bem posteriores a Euclides, como Lobatchevsky, Riemann e outros, criaram seus próprios sistemas, diferentes do de Euclides, no qual as paralelas podem até se encontrar. Assim, foi possível entender fenômenos do infinitamente grande ou do infinitamente pequeno, fenômenos próprios das galáxias e dos átomos. Mas nada se compara para mim àquele alumbramento das compreensões inciais da ciência dos números.

Ajudou muito ter lido ainda menina “O homem que calculava”, de Malba Tahan, e “A Magia dos Números”, de Paul Karlson. O primeiro desses livros, conhecido da maioria daqueles que são da minha geração, é da autoria de um brasileiro, o professor Júlio de Mello e Souza (1895 – 1974), que criou esse pseudônimo de Malba Tahan porque acreditava, com razão, que os editores não investiriam em um escritor brasileiro iniciante. Além do pseudônimo ele criou também o personagem, do qual se dizia apenas “tradutor”, tendo dele “traduzido” inúmeros livros, com temática referente à cultura árabe. “O homem que calculava” é o seu livro de maior sucesso e foi traduzido para várias línguas, tendo vendido mais de dois milhões de exemplares somente no Brasil, onde já alcançou mais de quarenta edições. Quanto ao segundo livro, “A Magia dos Números”, saiu pela Editora Globo, de Porto Alegre, numa tradução de Henrique Carlos Pfeifer. Este livro conta a história da Matemática e dos homens que a fizeram. É maravilhoso.

Além do acesso irrestrito a esses e outros livros, afortunadamente nunca ninguém me disse que eu não podia, que era difícil, que a cabeça das mulheres não é boa para Matemática ou que os garotos olham com desconfiança as meninas que se distinguem nessa matéria. Tudo isso só vim ouvir depois, dito por outos pais que não os meus e compreendi que esses pais estavam somente passando para os filhos os preconceitos que eles próprios alimentavam em relação a esta disciplina.

Finalmente, considero que a Matemática serve não só para deslumbrar as meninas tímidas, esquisitas e sonhadoras – como eu era – mas basicamente para desenvolver capacidadea de pensar, raciocinar, resolver problemas, analisar, relacionar, comparar, classificar, ordenar, sintetizar, abstrair, generalizar e criar. A partir disso, do desenvolvimento de estruturas lógicas de pensamento, fica mais fácil adquirir novos conhecimentos em qualquer área e, também nos possibilita uma maior compreensão do mundo que nos cerca, favorecendo o exercício da nossa cidadania.





Gosto não se discute

26 11 2009

J.R.R.Tolkien

O escritor J.R.R. Tolkien faz o seguinte comentário no prefácio do primeiro volume do seu livro “O Senhor dos Anéis”: “Algumas pessoas que leram o livro acharam-no enfadonho, absurdo ou desprezível; e eu não tenho razões para reclamar, uma vez que tenho opiniões similares a respeito do trabalho dessas pessoas, ou dos tipos de obras que elas evidentemente preferem.”

É isso aí, caro leitor. Tem gosto para tudo e não existe nada no mundo que não possa ser apreciado por alguém. Além de ter direito de gostar, o cidadão tem o direito inalienável de expressar sua opinião, sendo esse direito um dos pilares da democracia.

Quando eu expresso meu gosto pessoal para você através deste blog, tenho que deixar bem claro que é o meu gosto pessoal. Se eu quiser comentar uma obra de arte qualquer de um ponto de vista que seja mais do que uma simples opinião, primeiro tenho que conhecer a linguagem daquela arte, para que possa analisar seus elementos e verificar se a obra – música, poema, livro, quadro ou peça de teatro – realizou seus objetivos, dentro da forma que o artista escolheu para se expressar. Aí, estarei exercendo uma função crítica que, apesar do que dizem alguns, é importantíssima para que artistas e público se aprimorem, os primeiros elaborando melhor suas criações e o segundo aprendendo a compreender melhor a obra de arte podendo assim desfrutá-la com mais prazer.

É muito bom ler as críticas de arte: cinema, música, literatura, teatro, pois além dos críticos nos mostrarem um lado ou uma faceta da obra que não tínhamos percebido, orientam nosso gosto e nos afastam daquilo que não tem valor artístico ou importância cultural, segundo os cânones vigentes. É claro que o crítico tem seu gosto pessoal e isso se traduz naquilo que ele escreve. Mas sua opinião sempre deve ser baseada no conhecimento da linguagem da arte em questão e na evolução histórica dessa arte. Nunca no simples “eu acho”.

Mas como gosto não se discute, e tem gosto para tudo, lembro aqui da história daquela mulher que era feia, muito feia. Mas não era qualquer feia: essa era feia mesmo, daquelas que são feias de doer. Pele áspera como a de uma laranja murcha, cabelos secos e sem cor, olhos sempre lacrimejantes, orelhas grandes e de abano, dentes amarelos e irregulares, boca torta, nariz  adunco. De corpo então nem se fala. O peito era chato, os braços compridos, as pernas finas e curtas, quadris estreitos e para completar mancava um pouco pois tinha uma perna maior do que a outra.

Pois bem: esse estrupício, mesmo com toda essa carga de feiúra, achou um homem que se apaixonou perdidamente por ela. E quando as pessoas perguntaram ao herói o que ele tinha visto naquela criatura horrorosa, o apaixonado galã, provando que tem gosto para tudo,  respondeu: “Gosto de tudo mas o que mais me agradou foi o jeitinho dela andar…”

367 pessoas já baixaram até agora o meu livro Coração Parahybano. E você? Dê-me o prazer da sua leitura! é de graça! É só clicar aqui.





Blogueiros, trolls e censura

25 11 2009

Um blogueiro do Ceará foi condenado a pagar uma indenização por danos morais a uma pessoa que se sentiu insultada por um comentário postado no blog dele. É significativo também o grande números de comentários e pronunciamentos sobre esse caso onde as pessoas reclamam “da falta de liberdade na Internet” e da “censura disfarçada que ainda existe no Brasil.” A história toda pode ser lida aqui, e pretendo tomar esse caso como ponto de partida para uma discussão sobre a liberdade que deve ser dada aos comentaristas de um blog.

Faz tempo que estou conectada. Desde o início da Internet, quando não havia sequer a Web, e se usavam computadores ligados à rede telefônica apenas para trocar arquivos e bater-papo on line que estou mergulhada nessa maravilha tecnológica. Desde esses inícios, sempre entendi a Internet como uma ampliação do mundo, uma dimensão virtual de um mundo que até então se caracterizava apenas como mundo presencial. Desde então, o mundo virtual se consolidou e hoje, considerando ambos igualmente reais, penso que as regras de convivência que valem no mundo presencial devem valer também no mundo virtual, ou, se não for o caso, se adaptarem às novas situações criadas por essa interface.

O mundo da Internet, dito assim de maneira genérica para determinar tudo que é incluído no raio de ação das redes telemáticas de comunicação, inclui a web, o email, o chat, o MSN, o orkut, o twitter e agora o novíssimo googlewave, que eu também já estou lá meio sem saber direito o que é nem como funciona; mas estou lá, como se estivesse num quarto escuro, vendo aqui acolá uma luz e tateando pra me locomover.

Mas tudo isso, tudo mesmo, não existe sozinho: é mediado pelo ser humano, por mim e por você. Em cada computador está uma pessoa: lendo, escrevendo, navegando, acessando, twittando, deixando mensagens no orkut, conversando pelo MSN e agora surfando nas ondas – ou nas waves – do google. Por isso nenhuma das regras de convivência entre pessoas pode ser violada.

E do jeito que tem todo tipo de gente no mundo, tem todo tipo de gente na frente de um teclado. Muita gente quando está ali fica poderosa, destemida, corajosa, atrevida, e escreve coisas que não teria coragem de dizer em alto e bom som, principalmente na frente da pessoa a quem se destina aquilo que escreve. Ficou mais fácil insultar, soltar palavrões, ser grosseiro, mediado pelo meio eletrônico. E é aí que chegamos na nossa questão inicial: do que deve ou não ser permitido num blog. Ou melhor: o que é um blog.

Um blog é um veículo de comunicação. Existem blogs de todo tipo: institucionais, empresariais, de jornais, e de pessoas assim como eu, que gostam de escrever, que querem se comunicar. No meu caso, o meu blog é como uma extensão da minha sala, onde eu convido as pessoas para virem conversar comigo. Se, no meu prédio, eu encher a sala do apartamento de gente para conversar em altas vozes, soltando palavrões e fazendo barulho, eu sou responsável perante o condomínio pela algazarra. Cabe a mim escolher meus convidados e impedir qualquer tipo de ato que incomode os vizinhos – e a mim também, é claro.

O blog é igualzinho. Há um mecanismo de controle dos comentários exatamente para prever esse tipo de coisa. E não é censura não. É apenas um filtro social, o mesmo filtro aplicado nas relações humanas, uma peneira para impedir que eu mesma ou pessoas que me lêem, e que vêm aqui para desfrutar de um momento sadio de leitura e troca de idéias sejam agredidos por palavras chulas e insultos.

Quando escrevi aquele post sobre o comercial das sandálias havaianas, permiti todos os comentários que tinham idéias contrárias às que expressei no post, desde que fossem expressos em linguagem adequada. Os comentários que não deixei passar continham xingamentos e agressões gratuitas, a mim e aos outros internautas que comentaram. Se eu deixar passar, estou endossando e permitindo, e me arrisco a ser processada por alguém que se sentiu ofendido no espaço do meu blog – foi isso que aconteceu com o blogueiro cearense.

Há blogueiros que permitem todo tipo de comentário; há aqueles que não só permitem como respondem aos insultos, e há os que permitem, respondem e estimulam, fazendo com que o terreno do blog se torne um campo de batalha, atraindo com isso todo tipo de “troll” que existe por aí e aumentando o rank de visitas. Eu não tenho esse interesse.

Um desses “trolls”, chateado porque não publiquei seu comentário ofensivo, me enviou um email dizendo que eu era um “resquício da ditadura” e que não tinha “compromisso com a notícia e com a liberdade de expressão.” Eu vivi durante a ditadura militar e sei o que é censura e repressão. O que foi feito naquela época nem de longe se compara a moderar comentários agressivos enviados a um blog. Quanto ao “compromisso com a notícia” não tenho mesmo. Não sou jornalista, meu blog não é jornalístico.

“Compromisso com a liberdade de expressão” eu sempre tive e sempre terei, desde que tenha bem claro na minha mente – e isso todo mundo que escreve deveria ter – onde acaba a minha liberdade e começa a do outro. Quando falta o respeito e a cordialidade, perco todo o meu direito de defender e firmar qualquer opinião e fico igual a qualquer um desses “trolls” que estão soltos por aí, exercendo a “liberdade” do insulto gratuito e a “democracia” da cafagestice e da agressividade.





Ser feliz todo santo dia

24 11 2009

“Eu seria hipócrita e mentirosa se dissesse que não gosto do dinheiro nem das coisas que o dinheiro compra. Essas coisas absolutamente não ‘impedem’ a felicidade mas às vezes a pessoa mistura os canais, e passa a pensar que, tendo tais coisas, será feliz. As coisas que trazem felicidade não têm nada a ver com aquelas que o dinheiro compra. As pessoas podem ter ambas, e somente a capacidade de discernir umas das outras já seria um primeiro passo muito bem dado no caminho da felicidade. Eu adoro uma roupinha de griffe, uma bolsa chique, bons restaurantes, CDs e livros. Mas felicidade mesmo são os bracinhos do meu neto em torno do meu pescoço, é ver minha linda filha Ana Morena cantando no palco, e olhar para este céu azul da Paraíba e saber que nasci neste chão, que sou filha desta terra. Isso é felicidade e dinheiro nenhum no mundo pode comprar”.

Esse é o trecho de uma entrevista que dei em janeiro de 2006 a uma moça muito simpática, a Carolina Arêas, que tem um blog sobre terapia floral.

A entrevista era sobre uma ideia que defendo, e que diz que a felicidade não cai do céu no nosso colo, mas é alcançada através da prática diária e de uma firme disposição de ser feliz, não num futuro distante, quando o filho se formar, ou terminar de pagar a casa, ou fizer a tão sonhada viagem à Europa, mas ser feliz, hoje, aqui, agora, enquanto estou teclando este post no notebook.

Vivo por aí defendendo esta ideia em palestras que faço e textos que escrevo. Escrevi um livro inteirinho sobre isso: “A magia do cotidiano: como melhorar sua qualidade de vida”. Fico agoniada quando vejo gente reclamando da vida, culpando a tudo e a todos pelos seus problemas, desperdiçando esse mundo tão bonito de se viver.

Eu acho o mundo bonito e bom de verdade, meu caro leitor, e se às vezes ele se desorganiza em enchentes, terremotos e furacões nós não estamos aqui, com força e coragem, para começar tudo de novo? Se há roubo, corrupção, patifaria, nós não estamos aqui para fazer a nossa parte, divulgando, denunciando, cobrando? Ah, eu não tenho jeito mesmo. Sou uma otimista incurável!

E com essa injeção de alegria, com o desejo de ver “o mundo todo belo e pintado de amarelo” como disse um dia desses a minha amiga Denize “La Reina Madre” Barros, é que eu lhe deixo hoje, pronto para encarar mais um dia, o primeiro do resto de nossas vidas, por que não?

Clique aqui para ver o resto da entrevista que dei para a Carolina Arêas e aproveite para zapear um pouco no blog dela, que é muito agradável.

 





Cultura popular, seiva da Vida

23 11 2009

Um dia desses recebi um e-mail de um leitor que me perguntou como era que eu, uma professora universitária, formada em Medicina, com pós-graduação e outros badulaques acadêmicos, tinha tanta afinidade com o folclore, com a cultura popular, com as coisas do povo. “De onde vem essa ligação, Clotilde?” perguntou-me o leitor. “Como você penetrou nesse mundo?” Em vez de responder, quero contar algumas coisas da minha infância.

Campina Grande, meados do século XX.

Passei minha infância em Campina Grande, na Paraíba, na década de 1950. Pela manhã, quando e meus irmãos saíamos da quentura da cama, depois de escovar os dentes e banhar o rosto com água “quebrada a frieza”, vínhamos para a mesa tomar o café com pão, manteiga, cuscuz, ovo frito e leite. Depois do café era a hora do banho-de-sol na calçada de casa, onde Papai, indo para o trabalho diário no jornal, se despedia de nós. Pedíamos a bênção e ele sempre respondia: “Deus te abençoe.” Mamãe conversava com a vizinha assuntos secretos que se encerravam quando um de nós se aproximava. “Comadre, olhe os meninos…” E se calavam.

Depois do banho-de-sol entrávamos em casa e o rádio era ligado no programa “Retalhos do Sertão”, da Rádio Borborema, onde os repentistas José Gonçalves e Cícero Bernardes cantavam sextilhas, glosavam motes e, no final do programa, invariavelmente, disparavam num galope-à-beira-mar ou num martelo-a-desafio de tirar o fôlego. A manhã se adiantava, o programa de rádio terminava e íamos brincar no quintal, onde passávamos o tempo a construir com areia, fragmentos de madeira, latas e caixas vazias uma fazenda completa com a casa grande, a casa de farinha, e os cercados e currais onde eram abrigados os bois e cavalinhos de barro que Mamãe comprava na feira.

Na hora do almoço comíamos feijão, arroz, carne assada, farofa de cuscuz. Verduras e saladas não faziam parte do hábito alimentar. Depois da refeição, havia “um docinho”, que podia ser doce-de-leite ou um naco de goiabada em lata espetado num garfo. Tirada a mesa do almoço e arrumada a cozinha, começava a brincadeira de desenhar.

Mamãe mandava comprar na mercearia da esquina uma folha grande de papel cor-de-rosa que era usada para fazer embrulhos e pacotes, e cortava essa folha em pedaços menores. Desenhávamos muito e eu tenho ainda viva na memória a lembrança da textura daquele papel rústico e macio, que eu cobria de renques e mais renques de árvores, todas diferentes c umas das outras, com ramos retorcidos e estilizados.

Angelim-PE

Ao lado da mesa, Mamãe sempre às voltas com a máquina de costura contava casos e histórias da sua infância, passada nas terras do meu avô, primeiro no sítio Boqueirão, no Cariri paraibano e depois na Broca, em Angelim, agreste de Pernambuco. Eram muitas as histórias e uma das que mais gostávamos era a do eclipse total do Sol, que havia pegado a todos de surpresa: a uma hora da tarde, sem que ninguém soubesse antes o que iria acontecer, o dia havia de repente se convertido em noite, fazendo os passarinhos endoidarem à procura dos ninhos e as raposas procurarem as tocas, deixando todos estupefatos, no meio do roçado, mergulhados na escuridão, distantes de casa quase uma légua.

Nisso se passava a tarde e, no fim do dia, banhados e trocados de roupa, tomávamos a nossa sopa de feijão ou o prato de xerém com leite, seguidos de tapioca e café-com-leite. Na boquinha da noite já estávamos de novo na calçada, brincando de roda, de toca, e das brincadeiras “de menina”: anel, berlinda… Papai apontava na esquina e corríamos para encontrá-lo e com ele entrar em casa onde o víamos jantar e depois sentar-se na espreguiçadeira da sala para ler e ouvir rádio.

Começava então a hora mágica das histórias de trancoso que não podiam ser contadas de dia sob pena de ambos, contador e ouvinte, criarem rabo. A noite era hora também da leitura dos folhetos, e ainda posso ouvir a voz de Mamãe recitando “O Pavão Misterioso”, ou “Juvenal e o Dragão”. Depois era hora de lavar os pés, tomar um copo de leite com açúcar e ir dormir, depois de rezar o “Santo Anjo do Senhor/ Meu zeloso guardador/ Se a ti me confiou/ A piedade divina/ Sempre me rege/ Guarda/ Governa/ E ilumina/ Amém.”

O sono vinha rápido cerrando nossos olhos e abrindo a cortina da mente para os sonhos, povoados de paisagens do sertão e de seus personagens, feras encantadas, fazendeiros cruéis e princesas prisioneiras, almas do outro mundo e bichos que falavam.

Então, não é questão de gostar ou não da cultura popular. Ela é o elemento fundador da pessoa que sou hoje, faz parte de mim, do que faço. Ela determina meu papel no mundo, e dela me vem, através dessas profundas raízes, a própria seiva da Vida.





Santa Cecília, a música e meu neto

22 11 2009
Santa Cecília

Santa Cecilia

Hoje 22 de setembro novembro, é dia de Santa Cecília e também Dia do Músico. Eu não sou lá muito chegada às coisas da religião formal, mas sou louca por milagres e pela vida dos santos. A história da santinha, que teria vivido nos primeiros séculos da era Cristã, em Roma, não difere muito das outras santas da mesma época. Prometida em casamento a um jovem da nobreza romana, Valeriano, conseguiu convencê-lo de que não podia entregar-lhe sua virgindade pois a havia consagrado a Deus. O noivo não somente aceitou o acordo, como converteu-se também, juntamente com seu irmão Tiburcio. O governador, sabendo da conversão dos dois rapazes mandou decapitá-los e irritado por ter Cecília entregue todo o tesouro da família aos pobres, mandou asfixiá-la no vapor fervente. Ao ver que ela saía ilesa, ordenou sua decapitação.

O sono de Santa Cecília, por Waterhouse.

Três golpes foram desferidos contra a jovem, que a feriram mortalmente mas não conseguiram separar sua cabeça do corpo. Ela tombou, e nessa posição ainda viveu três dias, aconselhando os que a procuravam, reafirmando sua fé em Deus e exaltando a conversão dos circunstantes.

A associação da santa com a  música vem do fato relatado pelos cronistas de que, durante os festejos do casamento ela, ouvindo a música executada, transportou-se aos elevados domínios epirituais reforçando mais ainda a sua fé em Deus. Dizendo melhor, seu caminho espiritual para Deus aconteceu através da música.

Lírio: o branco da pureza, o verdor da consciência, o odor da reputação...

Na Legenda Aurea, livro escrito no século XIII por Jacopo de Varazze e que conta a vida dos santos, eu vi que o nome Cecília vem de coeli lilia, ou lírio do Céu, e assim foi chamada pois tinha do lírio o a brancura da pureza, o verdor da consciência e o perfumado odor da boa reputação.

Para mim, Cecília é um dos mais belos nomes de mulher, e sempre me aborreci quando alguém o pronuncia “cicilha”, sem escandir as sílabas nem as vogais, “cê-cí-li-a”, como deve ser pronunciado. Cecília é o nome das filhas de dois grandes amigos: o jornalista Ciro Pedrosa, e o meu querido amigo André de Mello Lima, já falecido.

Sendo Dia do Músico, o dia também tem uma nota diferente, pois ambos os meus filhos, Rômulo e Ana Morena, são músicos, e eu mesma já fui durante alguma tempo, quando tentava me entender com um violoncelo no ínícios da década de 1970. A Medicina me levou para outros caminhos, mas o som aveludado do cello ainda me desperta fortes emoções.

Marcelo, neto e Rômulo, filho.

Este dia também é especial para mim pois é o aniversário de 10 anos do meu Neto, Marcelo Rodrigues Tavares, um menino lindo, inteligente e doce, em cujos olhos eu me vejo refletida sempre como muita alegria e gratidão ao Universo por ter me dado este privilégio.

Então é domingo, é dia de Santa Cecília, é dia do Músico e é dia de Marcelo. Um dia perfeito.





Minha “telefonical-adviser”

21 11 2009

Um dia desses, na manicure, enquanto ela cuidava das minhas unhas, o celular tocou. O dela, não o meu. Ela atendeu, conversou rapidamente, e desligou. Logo depois o celular tocou novamente. Era outro aparelho, que ela igualmente atendeu e logo desligou. Aí eu perguntei: Você tem dois celulares?” Ela respondeu: “Tenho três.” E mostrou um terceiro, que eu não havia visto. Mas para que tantos, disse eu, que só tenho e só tive um, desde que inventaram celular. “Para economizar”, disse ela. E passou a me explicar que quando se liga para um celular da mesma operadora, o custo da ligação cai muito, mas quando é para uma operadora diferente o preço do minuto é altíssimo.

Perguntou então quanto eu gastava por mês de telefone. Eu disse, e adiantei que tinha um telefone fixo e um celular pós-pago com um plano de “x” minutos. Ela colocou de lado a serra de unhas e o alicate, pegou um lápis e um papel e me deu uma aula de matemática financeira aplicada à telefonia.

Fiquei de queixo caído. Descobri que apesar de ter curso superior, mestrado e algumas especializações, nada disso me instrumentaliza para compreender a complicada lógica com que as operadoras de telefonia celular se organizam para fazer com que eu pague três ou quatro vezes a mais do que as minhas necessidades, como me explicou a inteligente manicure. Fiquei sem entender mais da metade dos cálculos que ela fez; e era tanta coisa! A gente põe 10 créditos e ganha 100 (não entendi se são 100 reais ou 100 minutos, mas gastar 10 para ganhar 100, seja lá o que for, parece um bom negócio). Há inúmeros planos diferentes, pós-pagos e pré-pagos, um para cada caso específico, para cada perfil de consumidor. Há números que você pode habilitar para ligar sem pagar nada. Há horários e condições onde é tudo mais barato, ou o gasto é mínimo.

Pobre de mim, distraída com meus livros e meus escritos, que não acompanhei a construção desse sistema, a montagem dessa estrutura. Mas uma coisa eu entendi: os caras que bolam essas coisas, fazem isso para a gente não entender mesmo, e gastar mais dinheiro, desperdiçando nossa grana por pura falta de conhecimento. O único jeito é conhecer todas as nuances do sistema para poder aproveitar-se dele, o que não deixa de ser o segredo óbvio do sucesso em qualquer empreendimento ou atividade.

Dou a mão à palmatória: vou nomear a manicure minha “telefonical-adviser”. Ela sim: compreende, conhece e sabe dominar todas as sete cabeças dessa hidra.

 





A força da Natureza

19 11 2009

Absolutamente sem tempo para escrever, deixo vocês com essa sequência de fotos que mostra a força e a pujança da Natureza lá no Cariri Paraibano. As fotos são de Egberto Araújo, mais poeta do que fotógrafo pra capturar uma coisa dessa.





O perigo ronda os cabelos

18 11 2009

Peço ao meu caro leitor que faça comigo uma experiência. Pegue qualquer jornal – O Globo ou o Correio Brasiliense, a Folha de São Paulo ou A Tarde, o Correio da Paraíba, O Norte, Diário de Pernambuco, Diário de Natal… Pode ser do Sul ou do Norte, de metrópole ou cidade pequena. Abra na coluna social. Observe as fotos das mulheres.

São quase todas iguais. São quase todas louras, ou com cabelos claros, muito com mechas, cabelos lisos, pontas desfiadas, um pouco abaixo dos ombros e todas ostentam sorrisos certinhos, de dentes regulares e claríssimos. Aqui acolá você vê uma morena, mas a grande maioria é como esse tipo que descrevi. Não há mais cabelos curtos, não há mais cabelos encaracolados, não há mais cabelos pretos ou castanhos. E dentucinhas, nem se fala. Foi uma raça que desapareceu da face da terra.

No afã de ter os cabelos lisos, elas vez por outra se intoxicam e morrem como o formol que faz parte da fórmula usada na “escova progressiva”, técnica utilizada para tal fim. Segundo a Associação Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não existem produtos autorizados para esse fim e o formol, um dos componentes utilizados pelos fabricantes, é altamente tóxico. “A quantidade máxima permitida em cosméticos, como xampus e condicionadores, é de 0,2%”, diz Josineire Melo Costa Sallum, gerente-geral de cosméticos da Anvisa.

É aqui que a coisa se complica. Nessa dosagem, o formol não alisa. Para fazerem efeito, os produtos teriam que conter – e contêm, embora seja proibido – muito mais formol do que o permitido. Em geral, os cabeleireiros admitem usar misturas com 2 a 4% da substância, mas sabe-se que adicionam mais formol à fórmula, de maneira irresponsável e criminosa.

Desde 1975 que são documentados casos de intoxicação por formol. Em 2004, com o auge da escova progressiva, houve várias ocorrências de reações alérgicas. O primeiro caso de morte teria acontecido em março de 2007, com a morte da dona-de-casa Maria Eni da Silva, 33 anos, no município goiano de Porangatu. A suspeita das autoridades da área de Saúde é de que ela tenha se submetido a uma escova progressiva com 20% de formol.

Conheço meninas que não passam sem essa tal escova. Conheço também cabeleireiros semi-analfabetos, que alteram sem o menor escrúpulo qualquer fórmula que se coloque nas mãos deles. O perigo está aí. Muita gente que eu conheço não sabe disso. Fica aqui o alerta.

Veja aqui uma opinião masculina.





Filmes e mulheres

17 11 2009

Hoje eu quero aqui dar algumas dicas de filmes que tratam da questão da mulher e que são, além disso, obras de arte, delicadas e bem-feitas, cheias de questionamentos, interrogações, perplexidades, reflexões e – por que não? – diversão.

Thelma e Louise

São filmes que trabalham quase todos na vertente da auto-estima feminina e da sua capacidade de virar o jogo e se afirmar, mesmo que isso resulte na destruição e na morte como vemos, por exemplo, em “Thelma e Louise” onde as protagonistas, depois de uma verdadeiro “tour de force” para escapar do machismo e seus preconceitos, encontram a liberdade na auto-destruição. Mas nem todos são assim trágicos.

O belíssimo “Flores de Aço” mostra mulheres de todas as idades, cada uma delas com seus problemas pessoais e particulares, que se agudizam em torno do casamento da personagem vivida por Julia Roberts. O filme é mesmo um belo hino à maternidade, e tem um desempenho magistral de Shirley MacLaine.

O Clube da Felicidade e da Sorte

“O Clube da Felicidade e da Sorte” traz a história de mulheres de gerações diferentes, mães e filhas, imigrantes chinesas, vivendo nos Estados Unidos. A evocação dos dramas vividos no país natal, a forma como se relacionam com a sociedade americana e o dilema entre essas duas culturas faz desse filme uma grande obra de arte, sem contar a beleza das atrizes, todas orientais.

Patchwork

Winona Ryder está em “Patchwork”, representando uma jovem indecisa frente ao casamento. Sua mãe e amigas decidem bordar para ela uma “colcha de casamento”, seguindo a tradição, e enquanto constroem o bordado vão resgatando episódios passados de suas vidas, e resolvendo velhas pendências. Quando a colcha fica pronta, nada mais é como antes. Os desempenhos de Anne Bancroft e Ellen Burstyn são absolutamente magistrais.

Já em “Tomates verdes fritos” a narrativa se divide em dois níveis: enquanto duas mulheres rememoram o passado, a vida de uma delas vai se transformando, inspirada no exemplo dos relatos. A tônica do filme é o amor e a solidariedade entre mulheres, num mundo repleto de preconceitos e dificuldades.

O Clube das DesquitadasFinalmente, o divertido “Clube das Desquitadas”, onde três mulheres abandonadas pelos maridos vão à forra; “A Garota de Rosa Shocking”, saboroso romance adolescente e, como é impossível resistir a uma história de Cinderela, o manjadíssimo “Uma linda mulher”, que sempre faz sonhar quem assiste. É isso aí.





Maluquices de escritores famosos

16 11 2009

Ando devendo a alguns leitores deste blog um post sobre essa história de “escrever”. Isso porque depois que fiz o “lançamento virtual” do meu livro Coração Parahybano, algumas pessoas me enviaram e-mails com perguntas variadas sobre o ato de escrever ou pedindo que eu opinasse sobre seus textos.

O assunto é tão interessante que quero escrever com mais cuidado, coisa que não pude fazer ainda, pois o fim-de-semana foi animado e cheio de compromissos e eu não sou tão nerd assim que fique o tempo todo enfiada em casa.

Então, enquanto você espera, divirta-se com essas maluquices de escritores famosos que pesquei na Internet para sua diversão.

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Goethe

Goethe escrevia em pé. Ele mantinha em sua casa uma escrivaninha alta. Hemingway também colocava a máquina de escrever numa prateleira da estante. (Eu também, durante um período de intensas dores na coluna, também passei um tempo escrevendo em pé. Ainda faço isso, quando estou muito excitada com um trabalho novo e não consigo ficar sentada enquanto escrevo).

Pedro Nava aparafusava os móveis de sua casa a fim que ninguém os tirasse do lugar. Nilo Tavares (meu pai) colava os pés da mesa no chão com Araldite, pelo mesmo motivo.

Gilberto Freyre não sabia ligar sequer uma televisão. Todas as obras foram escritas a bico-de-pena, como o mais extenso de seus livros, Ordem e Progresso, de 703 páginas.

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Aluísio de Azevedo

Aluísio de Azevedo, antes de escrever seus romances, desenhava e pintava, sobre papelão, as personagens principais, mantendo-as em sua mesa de trabalho, enquanto escrevia.

Carlos Drummond de Andrade imitava com perfeição a assinatura dos outros. Falsificou a do chefe durante anos para lhe poupar trabalho. Ninguém nunca notou.

Érico Veríssimo era quase tão taciturno quanto o filho Luís Fernando, também escritor. Numa viagem de trem a Cruz Alta, Érico fez uma pergunta que o filho respondeu quatro horas depois, quando chegavam à estação final.

Monteiro Lobato adorava café com farinha de milho, rapadura e içá torrado (a bolinha traseira da formiga tanajura), além de Biotônico Fontoura. “Para ele, era licor”, diverte-se Joyce, a neta do escritor.

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Manuel Bandeira

Manuel Bandeira sempre se gabou de um encontro com Machado de Assis, aos dez anos, numa viagem de trem. Puxou conversa: “O senhor gosta de Camões?” Bandeira recitou uma oitava de Os Lusíadas que o mestre não lembrava. Na velhice, confessou: era mentira. Tinha inventado a história para impressionar os amigos.

Mário de Andrade provocava ciúmes no antropólogo Lévi-Strauss porque era muito amigo da mulher dele, Dina. Só depois da morte de Mário, o francês descobriu que se preocupava em vão. O escritor era homossexual.

Jorge Amado para autorizar a adaptação de Gabriela para a tevê, impôs que o papel principal fosse dado a Sônia Braga. “Por quê?”, perguntavam os jornalistas, Jorge respondeu: “O motivo é simples: nós somos amantes.” Ficou todo mundo de boca aberta. O clima ficou mais pesado quando Sônia apareceu. Mas ele se levantou e, muito formal disse: “Muito prazer, encantado.” Era piada. Os dois nem se conheciam até então.

Achei isso aqui.





Nerdices

15 11 2009

Quem me conhece me chamada de nerd. Nerd, ou geek: aquela pessoa que gosta de informática, de gadgets eletrônicos, que se relaciona melhor com máquinas do que com gente, que estuda, lê, e sabe de tudo um pouco… Gosto de dizer que eu era nerd antes de existirem os computadores; agora, que eles existem, eu finalmente encontrei minha razão de ser e de estar no mundo.

Evidentemente isso é um exagero brincalhão e os que me conhecem sabem também que gosto de gente, de folia, de encontros, de confraternizações. Mas hoje, atendendo ao meu lado nerd, estou mostrando algumas “nerdices”: coisas que gosto, que acho bonitinhas, que queria ter…

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Gente! Olhem só essa tesoura guiada por laser! Aqui.

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Eu adoro essa canequinha. Aqui.

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Esse adaptador serve para qualquer tomada que possa existir no mundo. Só não sei se serve para essas novas tomadas brasileiras que estão inventando agora. Confira aqui.

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Que bonitinha: uma camiseta que detecta sinal Wi-Fi . Aqui.

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Preciso falar desse pendrive? Aqui.

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Olhe que bonitinha a camiseta dele… Aqui.

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O nerd, quando se cansa, senta melhor nessas almofadas, achadas aqui, onde tem mais um monte de artigos.

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E quando morre, não descansa em paz: continua on-line… Veja aqui.





A Terceira Guerra Mundial

14 11 2009

– Pai, que fruta é aquela?

– É uma jaca.

– Ai, pai, como é feia…

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Foi esse o diálogo que ouvi no supermercado, enquanto fazia minhas comprinhas semanais. A garota que fazia a pergunta tinha seus doze anos e era uma graça de adolescente, com a pele lisinha e os cabelos finos e claros. Portadora de tanta suavidade e juventude, não admira que achasse feia a jaca, escura e espinhenta por fora, e tão estranha por dentro, cheia de tripas e fiapos.

Caetano Veloso diz que “Narciso acha feio o que não é espelho” e esse episódio comprova exatamente isso. É muito difícil aceitar aquilo que é diferente de nós, e muitas vezes sequer nos damos conta dessa dificuldade. O exercício da tolerância, a aceitação do outro não naquilo em que ele se parece conosco mas exatamente no que ele tem de diferente torna-se muitas vezes tarefa quase impossível.

Durante a missa católica há uma hora em que o padre diz: “Abrace o irmão!” e nós nos viramos para quem está ao nosso lado, geralmente alguém que não conhecemos e nos abraçamos com esse desconhecido, sorrimos para ele, desejamos-lhe “a paz de Deus” e ficamos com isso muito felizes, achando que estamos sendo nobres e bons porque abrimos os nossos braços para um desconhecido.

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O que esquecemos é que aquele “irmão” que está ao nosso lado na igreja é provavelmente da mesma classe social que nós e que, também como nós, tomou banho, colocou desodorante e trocou de roupa antes de ir para a igreja. Esse irmão, meu caro leitor, é muito fácil de abraçar. Não há nenhum mérito nisso. Mas como abraçar o irmão que mora na rua, que está embriagado e caído na sarjeta? Como abraçar a irmã que se aproxima de nós no semáforo, vestida de trapos, com uma criança imunda nos braços? Como abraçar o irmão que expõe seu corpo e sua desdita, envergando seus trajes bizarros, nas esquinas das avenidas deste país?

Fazer o bem sem olhar a quem é uma coisa muito difícil. Fazemos, mas queremos gratidão eterna. E só fazemos o bem a quem achamos que merece esse bem, e não a quem realmente precisa dele. Uma pessoa iluminada me disse um dia que cada um de nós deveria fazer uma boa ação diária; mas essa boa ação só contava a nosso favor na contabilidade divina se ninguém soubesse que nós éramos o autor, nem mesmo a pessoa beneficiada. A imagem do escoteiro atravessando a rua com a velhinha, se exibindo aos olhos de todos, seria a antítese de uma boa ação de verdade.

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Essas idéias e pensamentos vêm à minha cabeça enquanto assisto ao noticiário na televisão e vejo os habituais e diários fatos que acontecem nas cidades do mundo: guerra, intolerância, violência, assassinato… É a Terceira Guerra Mundial que já está nas ruas, com suas batalhas em cada esquina, aqui pelos pontos de venda de droga, acolá porque uma moça entrou de vestido curto na universidade, ali na frente porque alguém encheu a cara e resolveu voltar para casa dirigindo um carro. Isso sem falar nas bombas explodindo e retalhando inocentes porque acima do chão minaretes brigam com torres encimadas por cruzes, e por baixo da terra o petróleo estende seu leito negro e viscoso…

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A Terceira Guerra Mundial é gerada pela ganância, pela intolerância, pela loucura. É claro que existem outras saídas, que há a possibilidade de Paz, tanto na esquina de casa como no chamado Oriente Médio. Mas é impossível ganhar dinheiro com soluções pacíficas. A máquina de guerra quando entra em ação gera dinheiro e poder, mesmo às custas do sangue dos inocentes.

Então, é tentar, pelo menos nas nossas vidas pessoais, aumentar as nossas atitudes de tolerância e incrementar nossa compreensão e aceitação daquilo que é diferente de nós, para contrabalançar a energia gerada pelos senhores da guerra e pelos chefões do tráfico.

Vamos deixar de ver na inocente jaca sua face espinhosa e feia, e vamos mergulhar no mel do seu coração de ouro, deliciosos bagos amarelos que enchem nossa vida de doçura e sabor.

 

Este post vai para o meu amigo Washington Araújo, paladino das causas nobres, em quem eu me miro e gosto de ter como exemplo.





O hipertexto da memória

13 11 2009
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Lá estou eu às onze da noite tomando banho. A água quente escorre sobre minha pele, estou de olhos fechados, relaxada, entregue a um fluxo de pensamentos, quando de repente uma imagem pungente se desenha na tela da minha mente: minha mãe morta no caixão. Tomo aquele susto, recebo a tijolada de sofrimento no centro do peito e me pergunto: mas o que é isso? Estarei ficando doida? Ou pior: deprimida? É assim que começa, essa história de depressão que acaba com a vida das pessoas de meia-idade, como eu?

Abro os olhos, respiro, vejo os azulejos, a cortina do banheiro, sinto novamente a água quente a escorrer suave e deliciosa sobre o meu corpo mas a imagem continua ali, persistente, nítida: mamãe morta no caixão. Ah, não! Esse fantasma não vai me perseguir, logo hoje, que o dia foi tão bom, que tudo deu certo, que almocei com meu filho e minha neta, passei uma hora agradável na livraria, o apartamento está arrumado esperando os amigos que vêm aqui à noite… Eu não vou permitir isso.

Procuro então, em vez de me deixar levar pela emoção ou pela saudade analisar como é que uma criatura está debaixo dágua no prazer do banho quente e de repente, do nada, se depara com uma imagem dessa. De onde ela veio?

090220_money_stackE penso no que veio logo imediatamente antes: era a minha imagem morta no caixão. Mas por que estaria eu morta no caixão? Ah, lembrei. Eu havia decidido gastar uma grana que recebi de uma antiga dívida que a UFRN tinha comigo e que está no banco e eu ainda não fui sacar. Talvez devesse ir no banco logo de manhã, era no que estava pensando, mas lembrei que não ia dar tempo porque de manhã eu vou lavar o cabelo no cabeleireiro.

Foi isso! Tomei essa decisão antes de entrar no banho: em vez de lavar o cabelo hoje, em casa, agora, vou lavar amanhã no cabeleireiro. Mas se eu for ao cabeleireiro não dá tempo a ir ao banco buscar a grana que a UFRN já depositou, e que já está lá há uns tempos.

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Aí pensei: será que eu devia economizar essa grana, em vez de torrar todinha numa viagem, como quero fazer agora, num cruzeiro, de navio, uma coisa que nunca fiz antes e que tenho uma vontade danada de fazer? Ah, pensei, quero nem saber! Vou gastar a grana na viagem mesmo, e assim vou fazer com tudo que ganhar, porque quando morrer não quero deixar um centavo, os filhos que se virem para comprar o meu caixão, e me arrumar bem direitinha e bonitinha dentro dele, do jeito que arrumei a minha mãe… Pronto! Foi assim que a imagem chegou. Não veio do nada, veio encadeada em um monte de coisas, e coisas boas: viagens de navio, dinheiro, gozar a vida…

Tranquilizada, relaxo, saio do chuveiro, me enrolo numa toalha e, saudando com prazer os saltos que dei, de clique em clique com o mouse da mente, indo e voltando, no hipertexto da memória, sento-me ao notebook para escrever este post.





Vergonha e medo

11 11 2009
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Natal. Foto de Canindé Soares.

Nunca falo em assuntos locais, ou seja, assuntos que têm a ver somente com a cidade em que moro, Natal-RN. É uma pena, pois é uma cidade pródiga em fatos e notícias interessantes, acontecimentos surreais – a maioria deles protagonizados pelos homens e mulheres que estão no Poder – e tudo aquilo que os ceresumanos vivem aprontando nas calçadas à beira-mar ou nas alamedas dos shoppings. Fiz essa opção porque o meu objetivo é ter leitores de todas as partes do Brasil e quiçá do planeta Mundo. Aí, opto por temas mais gerais.

Mas hoje há uma assunto que extrapola o nível do local porque mostra como as pessoas se relacionam com o meio eletrônico. O tema é exemplar e se aplica a muito do que acontece por aí. Vejamos. Os políticos, como todo mundo, estão usando o twitter. A Governadora do Rio Grande do Norte @wilmadefaria e a Prefeita de Natal @micarladesousa têm twitter, no qual postam com regularidade, informando sobre reuniões, providências, eventos, solenidades e respondendo a pessoas. Eu acho isso muito legal, embora alguns twitteiros duvidem de que sejam elas mesmas a escrever. E daí? Eu não acho nada demais elas terem assessores para fazer isso. Não acredito que a Governadora do meu estado ou a Prefeita da minha cidade tenham tanto tempo ocioso assim para ficar twittando de instante em instante. E como o twitter é uma ferramenta de comunicação muito ágil, penso que é preciso ter uma pessoa bem especializada para fazer isso, principalmente para não comprometer a imagem pública de um governante com alguma tirada fora do contexto.

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Mas há alguns políticos que, por terem egos desmesurados ou por serem estúpidos mesmos twittam eles próprios. E não sabem como o twitter funciona, ou parece que não sabem. Pensam que é uma espécie de MSN, onde as conversas ficam restritas somente a quem escreve e quem lê. Você acredita, meu caro leitor do planeta Mundo, que um vereador da minha cidade, indo para o velório de um radialista morto em cidade vizinha, twittou a seguinte pérola: “Tou indo pra Mossoró enterrar uma bicha q morreu era antiga no rádio virou purpurina”.

Um jornalista atento, que segue o dito vereador no twitter, leu a aberração e publicou no seu blog. O cara soube e no mesmo twitter respondeu ao jornalista em termos desrespeitosos de tal forma que não vou reproduzir aqui. Aí foi o que se vê: Deus-e-o-mundo leu e repassou, ou “retuitou” uns para os outros e o caso ficou notório. O tal vereador se desculpou com o jornalista aqui. Mas a presepada já estava feita.

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Eu não identifiquei as pessoas porque não me interessa a questão pessoal, embora a nível local ela seja pertinente, pois o vereador foi simplesmente o mais votado da última eleição e é candidato a senador – pra vocês verem como andam as coisas na política desta ensolarada capital do Rio Grande do Norte. Você, querendo saber, é só seguir os links do parágrafo anterior.

O que é exemplar nesse episódio é o despreparo das pessoas em todos os níveis, incluindo as pessoas públicas – algumas –  inclusive para lidar com mídias eletrônicas como o twitter. E o pior é que pessoas assim estão ocupando cargos, e ameaçam subir cada vez mais, tendo nas mãos decisões importantes que afetam a sua e a minha vida, meu caro leitor. Escrevo isso para o planeta Mundo tomar conhecimento, e sei, infelizmente, que isso não acontece só neste meu estado, mas em muitos lugares desse nosso tão combalido país, quando se trata de Ética e de Humanidade. Tenho duas sensações num episódio desse: Vergonha. E Medo.

Sobre o tema, leia mais essa aqui, do jornalista Patricio Jr.





Coração parahybano

10 11 2009
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Ontem, segunda-feira, passei a tarde ocupada com um evento virtual: o lançamento, pela Internet, do meu livro “Coração parahybano: crônica, literatura e memória”, que foi editado pela Linha Dágua em 2008 e lançado em 5 de setembro do mesmo ano na Fundação Casa de José Américo. Sem coquetel e sem autógrafos (que sempre acho um terror, autografar livros para aquela fila de gente!) passei a tarde twittando, mandando e-mails, torpedos no MSN e o mais que fosse, fazendo uma agitação danada e até meia-noite de ontem cerca de 130 pessoas já haviam baixado o arquivo com o livro.

Pois é, minha gente. As coisas têm mudado muito ultimamente com os recursos da Internet, e todas as atividades humanas precisam se adequar a isso. O pessoal de música já sabe que é inútil lutar contra o download de discos, e já começa a colocar o trabalho disponível para ser baixado gratuitamente ou cobrando pequena remuneração.

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No mercado de livros, apesar da resistência, começa a acontecer a mesma coisa. Há milhares de títulos já disponíveis na Internet, circulando em listas de discussão para uso gratuito, permitido ou não por editoras e autores. É impossível proibir essa troca espontânea de livros, porque é um movimento mundial e que não tem retorno.

Então, o que fazer? Juntar-se a esse movimento! E foi o que eu fiz, colocando meu livro disponível para download gratuito, no link http://www.clotildetavares.com.br/cp. É só clicar, baixar e ler. E o editor? – pergunta você, meu preclaro e cuidadoso leitor. O editor, Heitor Cabral, da Linha Dágua, está de acordo. Consegui convencê-lo de que a disponibilização gratuita do livro vai aumentar as vendas do mesmo no site da editora. Isso ocorre porque muita gente usa o download apenas para folhear o livro, do jeito que se faz numa livraria com um livro de papel. Olha, lê uma página aqui, outra ali, e resolve comprar. Nas quatro primeiras horas em que disponibilizei o link, cento e dez pessoas já haviam baixado e pelo menos três enviaram e-mails querendo comprar o livro de papel.

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Eu mesma tenho cerca de 400 livros no meu computador. Tudo livro bom, desde clássicos da literatura até livros que foram lançados neste ano de 2009. Alguns deles eu li na telinha, depois fui na livraria e comprei, para ter, porque sou doida por livro e gosto de olhar para eles nas estantes.

Só para encerrar, o “Coração Parahybano” tem 60 crônicas escolhidas entre as que publico toda quarta-feira no jornal A União, que circula na capital da Paraíba. A seleção dos textos teve como temática principal a história da Paraíba, minhas memórias da infância passada em Campina Grande e comentários sobre livros e autores paraibanos. São 132 páginas, com 60 textos.

Então: baixe. É de graça, não custa nada. Divulgue o link entre a sua lista de contatos. Repasse pra Deus e o mundo. Se você é blogueiro, divulgue no seu blog. E se tem twitter, retuíte para seus followers, com esse link menorzinho: http://migre.me/aFn8. Ao contrário do que muitos pensam, quanto mais gente baixar de graça, mais gente vai comprar o livro de papel como já está acontecendo. Desse jeito, editor e autora vão ficar muito satisfeitos. Conto com você.





O Muro de Berlim: 20 anos depois

9 11 2009

No dia 9 de novembro de 1989 eu estava em São Luís do Maranhão onde havia ido participar de uma banca de concursos na Universidade Federal, na área de Saúde Pública. Passava o dia trancada numa sala na Universidade, almoçava ali mesmo em restaurante próximo e o trabalho era duro, pois o concurso tinha muitos candidatos inscritos, e havia que analisar todos aqueles currículos, fazer as entrevistas, corrigir as provas, assistir às provas didáticas em forma de aula e tudo o mais. Quem já passou por isso sabe que é uma maratona.

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Pois bem: nesse dia eu cheguei ao hotel aí pelas sete horas na noite, mais morta do que viva. Tomei um banho e desabei na cama, buscando coragem para descer ao restaurante e jantar. Foi aí que, distraidamente, liguei a TV e não acreditei naquilo que eu estava vendo: estavam derrubando o muro de Berlim.

A Queda do Muro é um desses acontecimentos históricos espetaculares que nunca podemos esquecer e que a gente sempre sabe onde estava e o que estava fazendo quando recebemos a notícia. O 11 de setembro, o assassinato de John Lennon, o assassinato de Kennedy, a chegada do homem na Lua… Como esquecer essas datas e a nossa reação a esses eventos?

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Naquele dia, longe dos meus filhos, em cidade distante, sozinha no quarto de hotel, sem amigos para comentar o que estava acontecendo, sem ter com quem falar, eu fiquei ali pensando no significado daquilo que eu estava vendo. Pensei em todas as mortes, separações, injustiças, em toda a coorte de desgraças que aquela muralha de pedra havia produzido. Pensei no Muro, ou na sua queda, como um símbolo de uma nova ordem que se instalava sobre aqueles escombros, com mais Compreensão, com mais Tolerância, com mais Harmonia entre homens e nações.

É claro que muros mais sólidos ainda estão erguidos, desafiando a Paz e a Solidariedade: são aqueles construídos nas mentes e corações dos homens, com os tijolos da Cobiça, o cimento da Intolerância, a cal do Ódio. São esses muros interiores que hoje, na comemoração dos 20 anos de derrubada do Muro de Berlim, precisam ser lembrados. Como a muralha física de pedra e cal que tombou há anos, é preciso que eles comecem também a cair por terra, melhorando a vida de todo mundo.

A jornalista Ariane Mondo, paraense/potiguar vivendo na Alemanha mantém um blog sobre a Queda do Muro. Aqui.

O escritor W. J. Solha escreve artigo fundamental sobre a efeméride, incluindo reflexões sobre a prática política, tudo embalado pelo texto elegantíssimo desse sorocabano/paraibano, festejado autor de “Relato de Prócula”. Veja o texto de W. J. Solha aqui.

Há um filme muito bom sobre o tema: “Adeus Lenin” (Wolfgang Becke, 2003).

E achei esta foto espetacular AQUI.

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Aqui jaz o muro de Berlim...