Trabalho e prazer

30 09 2009

Tem gente que adora o que faz no trabalho; outros odeiam, mas ganham muito bem, e continuam fazendo. A sabedoria popular é quem diz que “quem faz o que gosta não precisa trabalhar”. Mas infelizmente muitas vezes não é possível trabalhar naquilo que gostamos. Em épocas de crise como a nossa, precisamos trabalhar no que aparece e não naquilo em que preferiríamos.

A necessidade de refletir sobre o trabalho é imprescindível para viver bem nos dias de hoje. O mundo do trabalho, dos empregos, está mudando. Um conceito que prevalece mais e mais a cada dia no mundo dos negócios é o conceito de “trabalho prazeroso”. Isso quer dizer que só vale a pena trabalhar se esse trabalho der prazer. O empresário antenado com as mudanças não está mais interessado no “empregado”, que é aquele que “se puder, trabalha menos”. O interesse hoje é no “empreendedor”, que é aquele que “se puder, trabalha mais”.

E qualquer um de nós só trabalha além do mínimo se gostar do que faz. Os empresários estão procurando para contratar pessoas que trabalhem como os artistas. Ora, como é que um artista trabalha? Um cantor, um músico, um ator, um artista plástico, geralmente se entregam à tarefa que fazem – cantar, tocar, atuar, pintar – com um grande prazer e uma dedicação integral.

Você já reparou como é apertada a agenda de muitos artistas? Já reparou que eles trabalham num ritmo que muitos de nós, simples mortais, jamais pensaríamos em conseguir no nosso trabalho normal? O que acontece é que na nossa sociedade, há um grande preconceito contra o trabalho prazeroso. Desde que Adão foi expulso do Paraíso com as palavras terríveis “Comerás o pão com o suor do teu rosto” ainda ecoando nos ouvidos que o homem associa o trabalho com o sofrimento e o sacrifício.

Isso se complica quando um jovem quer trabalhar em coisas que, para a geração mais velha, não são necessariamente “trabalho”. Quando um jovem resolve ser músico, o pai pergunta: “Tudo bem. Mas quando é que você vai arranjar um trabalho de verdade?” Isso é dito como se tocar profissionalmente não fosse um trabalho muitas vezes mais cansativo do que frequentar uma repartição pública das oito às doze e das duas às seis. Ficamos também desconfiados quando vemos alguém feliz com o trabalho. Pensamos lá com os nossos botões: “Bem, se é tão agradável assim, não deve ser trabalho.”

Conheço uma jovem que é especialista em Biologia Marinha, e trabalha de biquini, pé de pato e máscara de mergulhador. A família não aceita essa atividade como trabalho e sempre se refere a ela como “as férias eternas de fulana”, muito embora ela ganhe mais dinheiro do que o seu irmão, que é advogado.

As empresas não estão mais interessadas em “mão de obra” mas em seres humanos empreendedores, felizes e criativos e isso só se consegue se o indivíduo estiver envolvido afetivamente com o seu trabalho. É preciso então seguir as inclinações do nosso coração, ao escolher algo em que vamos trabalhar, muitas vezes para o resto das nossas vidas. O trabalho que nos dá prazer é, assim, uma garantia de felicidade.





Seis meses blogando todo dia

29 09 2009

Quando comecei este blog, em 26 de março deste ano, não achava que fosse póssivel levar a cabo o que me propus: colocar todos os dias um assunto novo à disposição do leitor, para que ele adquirisse o hábito de vir aqui diariamente, na certeza de encontrar sempre uma novidade, algo novo para ler. Pois não é que, contrariamente a essa minha previsão pessimista, venho conseguindo manter o blog no ar e atualizado?

E para quem chegou aqui recentementemente, eu preciso dar umas informações. A primeira delas é que este blog Umas & Outras não tem um tema definido. São crônicas sobre o cotidiano, observações que faço quando vou a algum lugar ou simplesmente vagueio pela cidade, comentários sobre livros, filmes e programas de TV, e, obviamente, textos opinativos, porque tenho minhas opiniões sobre ass coisas e gostos de expô-las.

Há seis meses, completados antes de ontem, que escrevo aqui todo dia, excetuando pouquíssimas ocasiões em que estava doente e completamente sem condição de escrever. Sempre honrei este compromisso com você com textos escritos ou visuais – e chamo de textos visuais àqueles posts onde coloco só figuras, mas figuras expostas dentro de uma temática, dentro de um contexto, costuradas por uma idéia. E esses textos visuais feitos somente com figuras me dão mais trabalho do que simplesmenete escrever!

O Umas & Outras, exercício literário que quero fazer durante um ano, já chegou na metade do caminho. Cerca de 600 a 700 internautas me visitam todo dia. Poucos deixam comentários, mas um número razoável escreve direto pro meu email e comenta.

Então, meu caro leitor, continue por aqui. Volte sempre e traga os amigos. Estarei aqui todo dia, trocando uma idéia, comentando sobre a vida, opinando, escrevendo, compartilhando este pedaço da minha vida com você.

Veja também:

O primeiro post deste blog

Dois meses no ar

Um post só de figuras





Vaidade das vaidades

28 09 2009

A maioria das pessoas alimenta o sonho de ficar rico. Por isso é que as mega-senas da vida têm tanto sucesso e aceitação. Nada de mais. Ficar rico, ter muita grana, poder fazer o que quiser sem as limitações impostas pela ausência do vil metal deve ser bom demais.

Só que riqueza é uma coisa muito relativa. Uma revista norte-americana mantém atualizado um ranking de ricos, medido pelo tamanho da fortuna em dólares, quero dizer, em bilhões de dólares. Na minha terra, em Campina Grande, onde o povo é exagerado, os ricos também o são; e ouvi dizer que um deles, ao construir a casa nova, nela incorporou não mera e comum quadra de volei ou tênis, mas um campo de futebol nas dimensões oficiais, e chamou Pelé, o rei Pelé, para dar o chute inaugural. Outro – esse eu vi – estava bebendo em um bar nas cercanias de Mamanguape-PB, com a camionete cabine dupla estacionada em frente. Mal vestido, de chinelas, não parecia ter grana. O garoto que atendia às mesas duvidou que o carro fosse dele e ele, o rico, para mostrar que o era, pegou do chão uma pedra e destruiu o para-brisa do próprio carro somente para comprovar sua propriedade.

Qualquer coluna social de província – porque elas estão cada vez mais extensas e variadas, invadindo o espaço dos cadernos culturais dos jornais – exibe os símbolos de riqueza material que enchem os olhos dos deslumbrados: festas descritas em detalhes onde os ditos “ricos” degustam champanhe, crentes que pertencem a uma camada especial da humanidade. Mas no outro dia, meu caro leitor, você vê esse povo todo no trampo, trabalhando, ralando, nos escritórios, consultórios, jornais, empresas, indústrias e outras instâncias da produção de riqueza. No outro dia lá estão todos eles, ainda um pouquinho ressacados, mas suando – pouco – a camisa no ar condicionado, com obrigações, agendas, compromissos e reuniões de trabalho.

Jorginho Guinle

Jorginho Guinle

Ai eu pergunto: e será isso riqueza? Será que esses são realmente os ricos? Rico trabalha? O pobre quer ficar rico para deixar de trabalhar; aí ele descobre que ser rico – pelo menos na província – também dá muito trabalho. Quem estava certo era Jorginho Guinle, rei dos play-boys brasileiros: ser rico é não precisar trabalhar e ele se gabava de nunca ter trabalhado um só dia na sua vida.

Imediatamente me lembrei de Lady Caroline Ascher, dama da alta sociedade norte-americana na década de 1890 e que reinava soberana do alto da sua opulenta mansão vitoriana onde passava o verão em Newport, Rhode Island. Foi dela a idéia de criar o “400”, o primeiro índice de “colunáveis” dos Estados Unidos. O índice continha apenas 400 nomes porque era o número de pessoas que cabiam no seu salão de baile. Neste salão, com mais de 600 metros quadrados, havia 833 janelas e espelhos e ser convidado para as recepções de Mrs. Ascher em Beechwood – que era o nome da mansão – era quase como ser promovido a santo: significava ser admitido numa classe especial de gente que era diferente dos mortais comuns e, principalmente, para diferenciá-los dos ricos que não eram ricos de verdade.

Beechwood

Beechwood

O conceito de riqueza de Mrs. Ascher que norteava a escolha dos seus quatrocentos eleitos era simples: ter pelo menos um milhão de dólares (que no final do século XIX era dinheiro) e não ter trabalhado por três gerações, o que quer dizer que além do camarada não trabalhar, seu pai e seu avô também não deveriam ter trabalhado. O escolhido, além de ser ocioso de carteirinha, tinha de ser também ocioso hereditário.

Essas histórias me vêm à cabeça sempre que vejo aqui na província essas festas descritas nas colunas sociais ou quando ouço alguém dizer que comprou um sofá por dez mil reais.

Futilidade,vaidade, insulto terrível e sem perdão a quem ganha salário mínimo nesse país de desvalidos, todos esses pecados acabo de cometer quando ocupo seu tempo e este espaço para essa minha breve digressão entre os ricos de verdade e os ricos de mentira. Mas não sou santa, meu caro leitor, e como você também não é, espero que tenha se distraído um pouco com este papo fútil, para animar esse início de semana onde estamos todos no final do mês e, ricos ou pobres e remediados, esperamos com ansiedade o nosso contra-cheque.





O baobá, gigante vegetal

27 09 2009
Os baobás da Lagoa do Piató, em Assu-RN.

Os baobás da Lagoa do Piató, em Assu-RN.

Andei um dia desses falando aqui sobre as árvores, comemorando o seu dia; aí hoje me lembrei de uma paixão que tenho por uma árvore muito especial: o baobá, que é uma árvore sagrada para muitas culturas. Sua altura descomunal e sua circunferência avantajada o tornam um gigante entre as outras espécies, elevando-o a objeto de culto entre as tribos da África, de onde parece ser nativo. Para essas culturas, não é somente uma árvore: é portadora de uma grande e poderosa energia, e em muitas comunidades é considerada um “espírito protetor”.

Somente no Rio Grande do Norte existem, catalogados, dez baobás, sendo que sete deles se encontram no município de Assu, na fazenda Curralinho, às margens da lagoa do Piató. Existe mais uma dessas árvores em Jundiaí, outra em Nísia Floresta – cuja idade real provavelmente é muito maior do que aquela que está registrada na placa que existe na árvore – e o famoso “Baobá do Poeta”, que o poeta e advogado Diógenes da Cunha Lima em boa hora salvou do sacrifício comprando o terreno onde a árvore “residia” quando o proprietário, querendo construir no local, ameaçava derrubar a árvore.

O prof. John Rashford e o poeta Diógenes da Cunha Lima. Atrás, o "Baobá do Poeta".

O prof. John Rashford e o poeta Diógenes da Cunha Lima. Atrás, o "Baobá do Poeta".

Diógenes comprou a área, mandou cercar e tomou o baobá como seu filho adotivo. Ele lá está na rua São José, quase na esquina da Avenida Alexandrino de Alencar. Sempre passo por ali para ver como vai a imponente árvore e você que está lendo, se planeja visitar Natal, não deixe de ver essa preciosidade. Não sou botânica, nem agrônoma, mas amo as árvores e elas se entendem muito bem comigo. O baobá me disse, da última vez que passei por lá, que está tudo bem, embora esteja atravessando um período de seca, natural numa espécie acostumada com os rigores do clima africano.

Por conta desse meu amor pelas árvores, fotografei os baobás de Assu e coloquei-os no meu site. Lá, eles foram descobertos pelo professor John H. Rashford, da Universidade de Carolina do Sul nos Estados Unidos. Esse cientista é especialista em baobás e árvores sagradas, e estava para fazer um levantamento dos baobás existentes na América Latina e Caribe. Viu os baobás do Rio Grande do Norte no meu site, e veio parar aqui em Natal onde peregrinamos durante dois dias, sob os auspícios de Diógenes da Cunha Lima, medindo e fotografando todas essas árvores. Segundo o Dr. Rashford, o “baobá do poeta”, o filho adotivo de Diógenes, aquele mesmo que está aqui bem pertinho de nós é o segundo maior da América Latina e Caribe.

O Prof. Rashford mede a circunferência do "Baobá do Poeta".

O Prof. Rashford mede a circunferência do "Baobá do Poeta".

Então, minha gente, uma vez atualizados os nossos conhecimentos sobre o baobá, eu vou aproveitar a manhã para fazer uma visita à árvore, com calma, matando as saudades, como se estivesse visitando um parente muito velho, com muita coisa para me ensinar. Vou permanecer em silêncio ao lado desse gigante vegetal, regular o meu vermelho e agitado coração com o verde e calmo coração da planta e deixar brotar em a coragem dos chefes guerreiros que, nos tempos primitivos, eram sepultados de pé, com todas as suas armas, nas fendas da árvore. E sei que vou ficar feliz de pertencer a um mundo que nos dá de presente tantos e tão inusitados prodígios.





O que você leva na bolsa?

26 09 2009

Esse meme andou circulando por aí, tem um tempo, e em tudo que é de blog as pessoas postaram fotos dos objetos que carregam na bolsa. E o curioso é que, ao contrário do que se apregoa, as bolsas femininas andam muito organizadas sim senhor.

As mulheres muitas vezes carregam artigos de maquilage e cuidados pessoais numa enorme variedade, mas a maioria das que eu vi estavam todos muito bem organizados e separados em “necessaires”. Os homens também são organizados, e eu lhe envio para dois exemplos: a bolsa de Jady, do blog Between Us e a mochila de Augusto Campos, do blog Efetividade.net. Por que eles? Ora, minha gente, por que são blogs que gosto e visito todo dia e nada melhor do que fazer com que você os visite também. Há também um Flickr onde as pessoas postam o conteúdo das suas bolsas e o blog Xeretando Bolsa, de Fabiana Martins.

Mas eu, o que levo na bolsa? Já escrevi um grande e minucioso artigo sobre “Bolsa de Mulher” que você pode ler completo aqui, no site da Rainha Denize Barros, o La Reina Madre. O artigo foi escrito há uns dois anos e eu nem sei mais se o que eu levava naquele tempo é o mesmo que levo hoje. Então, vamos lá.

Levo na bolsa hoje a carteira com dinheiro, cartões de credito, documentos, cartões de visita, moedas. Dentro dela ainda carrego um pendrive de 1 Giga. Além da carteira, o celular, um leque, as chaves da casa, do carro e do portão do prédio, tudo em um chaveiro muito feio e sem graça (aceito um novo de presente…). Os óculos escuros, um estojo com batom e espelho, uma “piranha” para o cabelo, a Moleskine vermelha (do modelo Pocket Weekly Notebook) e umas duas ou três canetas Stabile point 88 (só uso esse tipo). Levo ainda uma lanterna, pois esse meu prédio é velho e assombrado, e se eu ficar presa no elevador ou tiver de descer ou subir pela escada escuríssima, tenho a minha lanterna salvadora.

Só isso meu caro leitor, só carrego isso. Como não trabalho fora nem passo o dia na rua, sou poupada de ter de carregar outras coisas que as outras pessoas precisam levar. Somente em casos especiais – ida a consultorio médico, por exemplo – levo um livro ou a Moleskine preta, maior, na qual escrevo.

E você? Leva o que na bolsa? Confesse aqui nos comentários.

O que eu levo na bolsa.

O que eu levo na bolsa.





Gripe suína: muito barulho por nada

25 09 2009

virusHoje tenho uma pergunta que pode parecer boba, mas que vou fazer aqui: alguém me dá notícias da gripe suína? Aquela que ocupou todos os espaços da mídia há poucos meses, que foi comparada à epidemia de gripe espanhola de 1918, que ia causar espetacular mortandade entre os chamados grupos de risco?

Sem a menor explicação, a mídia silenciou a respeito, pararam de noticiar os óbitos com estardalhaço, deixaram de mostrar gente de máscara na TV, talvez porque as próprias pessoas, vendo o descabido dessas medidas, tenha por si só raciocinado com bom senso e deixado de usar as tais máscaras que, a rigor, só funcionam se o mascarado estiver doente ou se teve contato com gripados e está em fase de incubação do vírus; a máscara é usada não para proteger a ele, mas aos outros, isso valendo em qualquer doença respiratória de alto contágio como, por exemplo a já citada gripe e tuberculose pulmonar.

Desde o início não acreditei em nada disso. Tenho olho para estatística e experiência como epidemiologista, uma vez que tenho formação na área, embora não atue como tal há muitos anos. A maioria dos óbitos que foram citados nos telejornais eram de pessoas suscetíveis a ter complicações respiratórias em caso de virose; as pessoas faleciam e no mesmo dia o noticiário dizia que elas haviam tido como causa de morte a gripe suína, quando o exame laboratorial que comprova esse diagnóstico demora pelo menos 10 dias. E tudo que a mídia propaga com tanto barulho deve ser sempre muito bem analisado antes de achar que aquilo é a verdade absoluta.

Pois bem: é isso que está aí. Ninguém mais fala da tal gripe, a “pandemia” resolveu-se por si própria, os fabricantes do tamiflu e de álcool-gel devem ter enchido as burras de dinheiro e, para não dizer que não restou nenhum benefício disso tudo talvez essa pretensa epidemia tenha contribuído para formar nas nossas crianças o hábito de lavar as mãos com frequência, hábito desejável em qualquer situação.

Quanto ao mais, é como o título daquela peça de Shakespeare: muito barulho por nada.






Comercial Havaianas e cenas de hipocrisia explícita

23 09 2009

Penso que todo mundo já viu o comercial das sandálias Havaianas que estava passando na TV. Leve, divertido, bem humorado, foi criado pela AlmapBBDO e tem a presença do ator Cauã Reymond, que vira o foco de uma conversa entre avó e neta na mesa de um restaurante. Se você não viu, deve vê-lo clicando abaixo, antes de continuar lendo. É rápido, tem apenas 32 segundos.

Pois bem: o comercial foi retirado do ar. As chamadas pessoas “de bem”, baluartes da moral e da pureza, acharam que a peça publicitária ofendia a “sagrada” instituição do casamento e pressionaram a empresa, que achou melhor suspender a exibição, no que eu não a condeno uma vez que precisa vender seu produto e não vai brigar com supostos clientes, sejam eles hipócritas ou não. E chamo sim essas pessoas de hipócritas porque se julgam mais puros e decentes de que os outros e nessa tentativa de impor seus valores atropelam os valores das outras pessoas. Veja abaixo o vídeo que está disponiblizado no You-Tube contra o comercial, com direito a citações bíblicas e tudo o mais. Dura 2 minutos.

O video começa com a declaração: “Fui obrigado a falar de sexo com minha filha de 5 anos!” Ora, minha gente! Qual o problema? Todo mundo sabe que é nessa idade que as crianças começam a perguntar sobre “aquilo que papai e mamãe fazem quando se trancam no quarto”, sem precisar da televisão para que essa curiosidade seja despertada. A clareza e a sinceridade nas respostas vai determinar no futuro a atitude saudável ou não dessa criança em relação ao sexo. Mas o video continua dizendo que a criança viu “uma avó dizer à neta que fazer sexo é moderno!” Na verdade, a avó não disse isso. Dise que ela, a avó, era moderna, porque convenhamos: fazer sexo é a coisa mais antiga que existe.

Eu duvido que a criança tenha perguntado isso aos pais. A referência a sexo é rápida, casual e sutil, dentro da conversa, e tenho certeza de que a criança não atentou pra isso. E se atentou? E se perguntou? Qual o problema de uma criança de cinco anos perguntar o que é sexo e a mãe responder? E será que e só esse comercial a única referência ao sexo que há na TV, cuja programação a criança assiste inteirinha enquanto os pais trabalham? E os comerciais de outros produtos, como os de cerveja, por exemplo, carregados de conteúdos eróticos?

O pior de tudo é que o vídeo traz o exemplo da criança de 11 anos, estuprada e engravidada pelo padastro pedófilo. O que o video quer demonstrar aqui? Que as crianças, conhecendo o sexo tão cedo, e preferindo o sexo ao casamento, se fazem estuprar e engravidar de propósito pelo inocente padastro, aprisionado nas garras da menininha que aprendeu sexo na TV?

O mundo está cheio desse tipo de hipocrisia, meu caro leitor. O mundo nestá lotado de pessoas puras e melhores do que as outras, que vêem pecado e sujeira em tudo, porque o pecado e a sujeira está dentro dos seus corações e mentes, toldando sua visão, distorcendo a sua forma de ver a realidade e prejudicando toda a sociedade.

Para concluir, veja como a empresa contornou com elegância a situação, tirando o comercial do ar mas o substituindo pelo apresentado abaixo.

UPTADE: (24/09)

Quero agradecer a todos que participaram desta discussão. Tenho lido atentamente todos os posts e justamente por essa leitura notei que os argumentos começam a se repetir. Considero que, uma vez que as diversas opiniões, contra, a favor, mais ou menos, quase, em certos casos e talvez já foram apresentadas, replicadas e treplicadas, chegou a hora de encerrar. Agradeço a todos, e aproveitem para visitar os outros 172 posts deste blog, sobre temas variados. Mais uma vez, muito obrigada.





Como fazer a verdadeira tapioca nordestina

22 09 2009

Não sou daquele tipo de gente que gosta de café da manhã variado. Não gosto de frutas de manhã, pois sou do tempo em que a gente acorda com o corpo “quente” e fruta é uma comida “fria”, aí não combina. Sei que isso não tem fundamento científico mas fazer o que? Meu corpo se arrepia à qualquer sugestão de fruta no café da manhã. Então: meu desjejum é iogurte com linhaça, depois café, pão e queijo. E só.

Hoje não tinha pão, mas tinha goma na geladeira e eu fiz uma tapioca bem gostosa, recheei com queijo e ficou tudo tão saboroso que não resisti à tentação de fazer inveja aos meus amigos do Twitter, principalmente à jornalista Ariane Mondo, que mora na Alemanha e é doida por tapioca. Então algumas pessoas me pediram a receita, tudo gente de outros países, pois aqui no país do Nordeste todo mundo sabe fazer tapioca.

Eu já publiquei essa receita no meu livro “A Agulha do Desejo” e em alguns jornais nos quais escrevo, mas não me custa nada ensinar aqui tudo de novo. E saiba que a tapioca é uma iguaria tipicamente nordestina e de origem indígena, com surpresas de simplicidade e requinte, como você vai ter oportunidade de ver.

Primeiro é preciso goma de mandioca, fresquíssima, “verde”, com chamam lá no interior, peneirada em peneira bem fina. Aí você pega uma frigideira de uns 17 centímetros de diâmetro, bem limpinha, e coloca no fogo mas atenção: nada de óleo, manteiga ou gordura. Muita gente faz tapioca numa chapa, usando um aro de metal de uns 10 cm de diâmetro para delimitar o lugar onde se coloca a goma. Isso é coisa moderna e eu não gosto. Tapioca para mim tem que ter o formato de uma panqueca, um “tortilha”, um disco fino de massa de cerca de uns 15 centímetros de diâmetro com no máximo 3 ou 4 milímetros de altura.

Quando a panela está bem quente, você pega um punhado da goma, já peneiradinha, e espalha na assadeira, preenchendo todo o fundo desta com uma camada mais ou menos uniforme da goma. Com muito carinho e precisão, tome entre os dedos uma pitada de sal e espalhe sobre a goma. Usando as costas de uma colher, nivele – mas sem apertar muito – a superfície da tapioca e pronto: está na hora de virar. Nesse momento, respire fundo, tome a assadeira pelo cabo e balance delicadamente para soltar a tapioca; aí, com um gesto rápido, atire a tapioca para cima, observe com espanto ela se virar no ar e a deixe cair suavemente na panela para cozinhar o outro lado. Balance um pouco a frigideira, veja se ela já solta da superfície e pronto: a tapioca está pronta. Passe para um prato, pegue um pano de prato bem limpinho e seco e com ele esfregue a assadeira para tirar qualquer fragmento de goma, colocando-a de novo no fogo para fazer a próxima.

Enquanto a panela esquenta outra vez, adube a tapioca, passando manteiga e dobrando-a ao meio, ou enrolando-a. A tapioca também pode ser feita no coco; aí, enquanto ela está no fogo, coloque um pouquinho de coco ralado espalhado sobre a massa e depois cubra o coco com um pouquinho da massa antes de virar. Mas cuidado: essa versão no coco é complicada em relação à acrobacia aérea descrita antes. Nesse caso, é melhor virar com a espátula. Depois dela pronta – se for recheada com coco – também se usa jogar sobre ela algumas colheres de leite de coco diluído em água e açúcar. Eu prefiro a tapioca com manteiga ou – numa extrema concessão – requeijão ou queijo em fatia finíssima.

Quanto às tapiocas com dezenas de recheios variados e diferentes, acho que tudo isso é modismo de verão, inventado num dia e abandonado no outro para agradar turistas e visitantes. O bom mesmo é a tapioca simples, nordestina, sem enfeites, mas guardando um tesouro de sabor, textura e cor que você não encontra nessas novidades. Um poema de alvura e sabor, derretendo na boca: esta é a sincera tapioca nordestina.

Neste vídeo você pode ver como se faz ao vivo; foi o vídeo mais parecido que eu achei com a minha receita, muito embora o seu resultado seja uma tapioca recheada com leite condensado e não haja acrobacias aéreas. Há outros vídeos sobre o tema no You-Tube. Mãos à obra, e bon appetit!





Dia da Árvore

21 09 2009

Sou apaixonada por árvores. Hoje, no Dia da Árvore, convido a todos os leitores a fazer comigo um exercício, uma reflexão. Convido todos a sair de dentro de casa, procurar uma árvore qualquer e olhar para ela.

Geralmente, quando fazemos isso, quando olhamos para uma árvore vemos, por exemplo, a possibilidade que tem de nos fornecer madeira, cola, lenha, ou frutos para a nossa alimentação. Podemos também avaliar a sua capacidade de nos dar sombra para o descanso ou até mesmo um galho jeitoso para armar a nossa rede. Essa forma de olhar para a árvore é uma forma utilitária, econômica, onde a árvore desperta a nossa atenção somente pelo proveito que podemos tirar dela. Olhamos não a árvore, mas a sua utilidade em relação a nós. A pergunta que fazemos é: para que serve esta árvore?

Vamos imaginar agora que, em lugar de perguntar à árvore para que ela serve, nos interessemos por outro aspecto, e queiramos saber que tipo de árvore é essa, qual é a espécie vegetal a que ela pertence, a sua idade, suas relações com o meio ambiente, de que forma ela cresce, toda aquela história de xilema e floema, vasos lenhosos e liberianos. Esse é o olhar científico, e a pergunta que fazemos é: como esta árvore funciona?

Nessas duas formas de olhar, vemos a árvore como uma coisa, um objeto, apenas mais uma árvore entre tantas. Ao longo da nossa vida, vamos fazendo assim com todas as coisas que nos cercam, e até mesmo com as pessoas. Olhamos, e não vemos. Analisamos, e não sentimos. Dessa maneira, o mundo vai ficando chato, sem graça, sem encanto.

Mas quando olhamos para essa árvore e procuramos ver o seu Mistério vivo, sem nos interrogarmos para que ela serve ou de que forma ela funciona, quando procuramos perceber nessa árvore um universo de imagens e de formas que contém uma mensagem íntima e secreta, devolvemos a ela o seu encanto, e a pergunta que fazemos é: o que esta árvore me revelará?

Passamos assim a aprender a escutar o Universo e perceber a imensa poesia e o deslumbrante fascínio que existe por trás de todas as coisas. E recuperamos, com esse olhar encantado, a possibilidade de voltar ao Paraíso.





Estranho, bizarro, engraçado…

20 09 2009

Domingo preguiçoso esse em que eu, absolutamente incapaz de encadear uma idéia na outra, deixo aqui pra você esse álbum de figurinhas.

Philip Toledano

Foto de Philip Toledano

Castelo de Zé do Monte, construído pelo próprio nas brenhas do sertão do Rio Grande do Norte.

Quando vejo isso fico feliz de estar aposentada da docência...

Ô coceira danada!

Imaginem quando ela se curvar para jogar a bola...

Da série "Pérolas do Orkut.

Se você não se mexer, engorda. É o que diz a placa.

Eu quero um desse!

E finalmente esse banco que escapa a qualquer descrição!





Girafas na geladeira

19 09 2009
Rolando Lero, o rei do bla-bla-bla.

Rolando Lero, o rei do bla-bla-bla.

O ser humano, principalmente o ser humano dito civilizado, tem uma tendência quase doentia a complicar o que é simples. Falamos demais, somos prolixos, gostamos de demonstrar um conhecimento que não temos, adoramos falar difícil… Se o meu caro leitor duvida do que estou dizendo, preste atenção quando as pessoas são entrevistadas na televisão. Desde o ministro de estado ao cidadão comum todos eles complicam o que dizem e são incapazes de dar uma resposta simples e clara para qualquer pergunta. Os ministros e políticos muitas vezes fazem isso de propósito, para complicar mesmo, ou para não dizer dando a impressão de que estão dizendo. O homem comum faz para causar boa impressão, para “se  mostrar”, para fazer bonito.

Na vida doméstica também é  a mesma coisa. Se você é adolescente, experimente chegar em casa e dizer para sua mãe: “Tem almoço?” Provavelmente ela vai fazer uma longa digressão filosófica sobre a condição feminina, vai falar sobre o tempo que os alimentos levam para ficar prontos, vai comentar o preço absurdo da comida no supermercado, e refletir em voz chorosa sobre como ela se dedica a cuidar da casa e dos filhos quando poderia estar cumprindo “a sua lenda pessoal”. Nunca, nunca, jamais a resposta será um simples “Tem almoço, sim” ou “Não, não tem.”

Recebi um dia desses um email que trazia um teste engraçadíssimo, constando de perguntas e respostas que tem tudo a ver com isso que estou dizendo. Aliás, não faz muito tempo aqui escrevi um post sobre isso, onde citei o meu batidíssimo exemplo do filho perguntando à mãe se tem almoço. Mas vamos ao teste.

girafa2Começa assim: “Como você colocaria uma girafa dentro de uma geladeira?” A resposta certa é: “Abra a geladeira, coloque a girafa dentro e feche a porta.” O teste diz então que essa pergunta testa aquela sua tendência de achar soluções complicadas para coisas simples.

O teste continua com a pergunta seguinte: “Como você colocaria um elefante dentro da geladeira?” Ora, se você responde: “Abra a geladeira, coloque o elefante dentro e feche a porta”, a resposta está errada. A correta seria: “Abra a porta da geladeira, retire a girafa, coloque o elefante e feche a porta.” Aí o teste informa que essa pergunta testa a sua capacidade de pensar nas consequências de ações anteriores.

Mas vamos pra frente. A pergunta a seguir é: “O leão, rei dos animais, está organizando numa conferência animal na floresta. Todos os animais compareceram, exceto um. Qual foi o animal que nao compareceu?” Ora, meu caro leitor! Quem não compareceu foi o elefante, que estava trancado na geladeira, onde você mesmo o colocou. Essa pergunta testou a sua memória.

jacareFinalmente, a última pergunta: “Como você faria para atravessar um rio infestado de jacarés?” e a resposta é clara e simples: você poderia atravessar o rio nadando tranquilamente já que todos os jacarés estão na conferência de animais… O teste informa, finalmente, que essa pergunta testa a sua capacidade de aprender com seus próprios erros.

Mas não leve isso muito a sério. Esses testes não têm valor científico e não testam rigorosamente nada a não ser a sua paciência, e servem apenas que você, visitando este blog, possa variar um pouco das notícias que enchem a mídia, sobre falcatruas, roubos, sequestros, atos secretos e outras patifarias. De quebra eu também arranjei tema para escrever hoje, nesta manhã de sábado, que me pegou assim meio sem assunto e sem inspiração.





O Tempo, compositor de destinos

18 09 2009
Brigitte Bardot, foto recente.

Brigitte Bardot, foto recente.

Navegando na Internet, encontrei umas fotos da atriz Brigitte Bardot, atualmente com setenta e cinco anos. E não falta quem compare a imagem atual da atriz com aquela deslumbrante e esplendorosa juventude que encantou a todos na década de 1960, transformando-a num dos mais poderosos símbolos sexuais do século XX. Na foto atual a atriz, que nunca quis se submeter a plásticas, mostra a face sulcada de rugas, e os comentários dos blogs sempre são “o estrago que o tempo faz nas pessoas” ou “como o tempo destrói a beleza”.

Brigitte, na década de 1960.

Brigitte, na década de 1960.

Ah, meu caro leitor, permita-me discordar. As pessoas não são somente pele, músculos e articulações – estruturas mais afetadas pelo tempo do que outras. As pessoas são muito mais do que uma pele perfeita e uma musculatura sarada. Ao contrário de quem tem medo de envelhecer e vive correndo atrás dos milagres da plástica e tratamento, penso que o tempo age em nós de forma mais positiva do que negativa, melhorando, aprimorando, acrescentando sabedoria através da experiência.

Se não fosse a passagem do tempo, como ficaria a Esperança? Como ficaria a Utopia, que nos arrasta e conduz a novas conquistas, se ela não fosse localizada no Futuro, no tempo distante à nossa frente? Isso sem falar no efeito lenitivo e suavizante do tempo sobre as nossas dores, nossos males, nossas angústias. É o tempo que nos faz esquecer, perdoar, esvaziar o nosso coração das coisas que não deram certo para poder tentar de novo, sonhar de novo, amar outra vez.

Essa sou eu. Foto de 2008.

Essa sou eu. Foto de 2008.

À medida que nos premia com uma ruga aqui outra ali, com centímetros a mais na cintura ou com articulações mais duras, o tempo também nos dá tranquilidade para aceitar os imprevistos e sabedoria para compreender os enganos, nossos e dos nossos semelhantes, e ter paciência com eles.

É o tempo que apura a nossa percepção, afia nossa inteligencia e nos dá acuidade para compreender melhor os fatos e as coisas que nos cercam. Com a passagem do tempo, ficamos mais seletivos e entendemos o que o poeta quer dizer quando diz que “só quero saber do que pode dar certo, não tenho tempo a perder”.

Em 1969, eu tinha 21 anos.

Em 1969, eu tinha 21 anos.

Se o tempo nos embranquece os cabelos, também acalma os ardores juvenis que nos levam a fazer tanta bobagem sem querer, a dizer coisas das quais nos arrependemos depois. É o tempo quem doura as nossas recordações, que nos acalma, nos reconforta.

Finalmente, os versos de Caetano Veloso dizem mais do que eu posso dizer agora:

E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Não serei nem terás sido.
Ainda assim acredito
Ser possível reunir-nos
Num outro nível de vínculo.”

O título deste post também foi tomado de empréstimo a Caetano Veloso.





Escrivaninhas

17 09 2009

Estou com um cantinho bem definido de trabalho no minha nova morada. É um quadrado de 2,50m x 2,50m, logo na entrada do apartamento, que seria um pequeno hall se eu não precisasse de uma mesa mais ou menos grande para escrever e espalhar meus papéis, de um lugar para colocar a impressora e de uma pequena estante para guardar papel, meus arquivos, pastas e cadernos.

Tenho tudo isso já, mas muito velho, muito usado, e queria umas coisinhas novas. Aí, começa o meu problema, porque não gosto de nada comum, nada que “todo mundo tem”. E ando procurando uma mesa de trabalho que tenha uma das faces arredondadas, porque acho desagradável entrar em casa e topar logo de cara com um móvel em ãngulo reto bem na minha frente.

Dei uma primeira olhada pelas lojas, não vi nada que me agradasse; aí resolvi entrar na Internet para ver o que havia e, novamente, não encontrei o que queria mas encontrei umas escrivaninhas interessantes, umas bonitas, outras curiosas, que divido com você.


Começo com um clássico: a escrivaninha onde Goethe escreveu o “Fausto” e “Werther”. Aqui.

Esta é antiga: uma das gavetas tem um compartimento”secreto” que só pode ser aberta por quem conhece o segredo, segundo o anúncio. Está à venda, e o anúncio ainda diz que é em estilo “xerife”. Aqui.

No site do escritor Sérgio Barcellos Ximenes encontro essa ilustração com o título “A mesa do escritor” e uma reflexão: “… O campo de batalha, onde livros, esperanças e carreiras nascem e morrem.”

E a escrivaninha da menina, toda sapeca, com seus primeiros papéis de carta cor-de-rosa e bloquinhos Hello Kitty? Gracinha! Aqui.

E se você é daqueles que precisa se isolar de tudo para trabalhar, que tal essa estação de trabalho que se fecha sobre você como uma concha e não deixa a perturbação do mundo lhe atingir? Aqui.

Apaixonado por carros? Experimente essa.

Finalmente, essa escrivaninha que é o triunfo do design e do aproveitamento de espaço. Encontrei aqui.





Telejornal matutino: nunca mais.

16 09 2009

Vou deixar de ver noticiário de manhã. As coisas que vejo na tela me dão vontade de voltar para a cama e dormir de novo, ou então tiram o meu entusiasmo para sair à rua, para meus compromissos de almoço e encontrar amigos. Hoje, por exemplo, a primeira notícia foi a de uma adolescente batendo em colega de escola, incentivada pela mãe, que dizia: “Bate! Chuta! Mete o pé como eu te ensinei! Teu pai está no carro!”

Depois deste horror, a TV mostrou pessoas atingidas por pedras enormes que os bandidos atiram sobre os carros na linha vermelha (no Rio de Janeiro) na tentativa de assaltar quem passa na avenida.

O telejornal informa a nova de Sarney. Diz ele que “a imprensa está atrapalhando o Senado”. Então ele propõe o que? Que a imprensa se cale e deixe o Senado trabalhar em paz, com seus atos secretos e outras patifarias?

Outra matéria extensa foi a do lixo que ameaça soterrar a cidade de São Paulo, lixo que cidade não tem condição de recolher por inteiro e que a população está sempre produzindo.

Mais adiante, uma matéria sobre a tentativa do governo de “controlar” a Internet em relação à propaganda eleitoral, fazendo com que meu estômago se contraia todo à lembrança da ditadura militar. Felizmente, o jornalista Alexandre Garcia fez um comentário que salvou o dia. Disse ele: “Daqui a pouco o governo resolve mudar a Lei da Oferta e da Procura, a Lei da Gravidade…”

Depois, tenho o prazer de saber que no governo de Tocantins há vinte e cinco mil funcionários públicos em cargo de confiança, e que a maioria passa do dia sem fazer nada, tomando cerveja e banho de sol!

Então, está resolvido. Telejornal de manhã, nunca mais.





Patrick Swayze

15 09 2009

Hoje é dia de celebrar a Vida. Aliás, todos os dias são para celebrar a Vida mas muitas vezes a gente se esquece disso, e passa pelas horas na maior correria, na pressa, sem refletir e sem desfrutar sobre essa coisa maravilhosa que é estar vivo: respirar, ler, blogar, ir ali na geladeira e tomar um copo de água, levantar do computador e passar um tempinho ali na varanda vendo o céu, o perfil sensual das dunas e os carros em disparada pela avenida.

Patrick Swayze

Patrick Swayze

Tudo isso é para dizer que a primeira notícia deste dia de hoje foi a morte do ator Patrick Swayze, que me veio assim que abri o Twitter. Ao falar em Morte sempre me lembro da Vida porque para mim ambas fazem parte de um par indissolúvel, estão tão entrelaçadas que é difícil falar de uma sem falar da outra.

Patrick Swayze é um ator de quem eu gosto muito, e sempre paro o que estou fazendo para ver de novo, novamente e outra vez Dirty Dancing ou Para Wong Foo, Obrigada por Tudo!, filme em que ele faz o papel de uma drag-queen.

Os puristas do cinema dizem que ele era canastrão, mas isso pouco me importa. Eu sempre gostei de Jack Palance e de Victor Mature, por que não gostaria do belo Patrick Swayze? Seu maior sucesso, Ghost, é moralista e piegas demais para o meu gosto, e só me interessa pelo desempenho de Whoopy Goldberg. Mas há uma filme dele, Steel Dawn (Lance Hool, 1987) onde ele faz o papel de um espadachim do futuro num mundo pós apocalíptico, um filme de ficção científica que eu gosto muito.

Bem, mas o belo e sarado Patrick travou mesmo sua maior batalha contra o câncer de pâncreas que o destruiu em poucos anos, levando-o aos 57 anos de idade. Morreu em sua casa, sem a tortura dos tubos e das ressuscitações nas UTIs tecnológicas, que só fazem prolongar a agonia.

Para ele, aqui, esta declaração de amor de uma fã, e o consolo de que, nas imagens gravadas que ficaram de seus filmes, ele terá alcançado a imortalidade.





De novo os ceresumanos

14 09 2009

Saio pouco de casa. O mundo ultimamente se tornou um lugar barulhento, quente e sem vagas para estacionamento. Eu também fiquei mais velha, mais exigente, mais seletiva, mais comodista. Além disso, em casa tenho o mundo inteiro à minha disposição através da TV a cabo e da Internet, sem falar nos famosos 1.800 livros mencionados aqui tantas vezes. Quando saio, é para jantar ou almoçar com amigos, ir ao shopping ou livraria, dar uma volta de carro, visitar filhos ou amigos. Como não bebo nem gosto de balada ou noitadas, não vou a barzinhos; e qualquer reunião com mais de quatro pessoas para mim é evento, e não frequento eventos. Mas gosto muito de receber visitas, além de visitar muito também.

Enfim, estou caminhando para ser uma anacoreta urbana, empoleirada neste quarto andar, distante “do mundo e das suas pompas”, cumprindo o destino astrológico que colocou Vênus e a Lua em conjunção na minha décima segunda casa, só não me tornando uma freira por causa dos pecados cometidos na juventude e que, mesmo indo contra o bom-senso, estou doidinha para cometê-los de novo.

Oscar Wilde

Oscar Wilde

Reproduzo de memória um texto de Oscar Wilde em “O Retrato de Dorian Gray” – o livro está ali na estante mas estou com preguiça de me levantar para pegá-lo – sobre essa coisa dos pecados da juventude.

Num jantar, uma mulher já velhusca pergunta ao personagem:

– Como poderia sentir-me jovem outra vez?

– Oh, Lady X., lembra-se de alguma grande loucura que tenha cometido na juventude?

– É claro.

– Então cometa-a novamente…

Outra coisa que me assusta no mundo exterior é a presença dos ceresumanos, criaturas que parecem comigo mas que definitivamente não pertencem à minha espécie sendo, como já disse, meus “dessemelhantes”. Ontem, no supermercado mais alinhado da cidade, encontrei cinco espécimes. Três rapazes, duas moças, todos na casa dos vinte anos. Lindos, altos, bem proprocionados, bem vestidos, roupas caras, as garotas muito manicuradas e penteadas, roupas de griffe, bolsas caríssimas, tudo de muito bom gosto; não eram certamente garotas de programa como alguns podem estar pensando.

Em bloco, essas cinco criaturas se deslocavam pelos corredores da loja, falando em tom altíssimo, zoando uns com os outros aos gritos, usando palavrões, desarrumando as prateleiras, arrotando alto e emitindo outros sons escatológicos, e imitando animais. Os rapazes latiam, miavam, esturravam; e as moças cacarejavam e grasnavam, numa barulheira infernal, inadmissível naquele local e tolerável apenas se fossem crianças muito pequenas, e olhe lá.

Os ceresumanos também são identificáveis no cinema, e Sandro Fortunato, do blog Algo a Dizer, registrou um dia desses a presença deles. Eu deixei de ir ao cinema também porque me assusta a convivência com esses meus dessemelhantes, cada vez em maior número e mais barulhentos, fazendo-me lembrar do clássico cinematográfico  “Invasores de Corpos”, onde seres alienígenas se apossam do corpo das pessoas.

Tenho paciência com muita coisa neste mundo. Mas com os ceresumanos, fruto da falta de educação, representantes da grosseria e da cafajestice, meu grau de tolerancia é zero.


Uma mulher já velhusca – assim como nós pergunta:
– Como poderia sentir-me jovem outra vez?
– Oh, Lady X., lembra-se de alguma grande loucura que tenha cometido na juventude?
– É claro.
– Então cometa-a novamente…




Cioran e o domingo

13 09 2009
Cioran

Cioran

Hoje, com preguiça de ter ideias, abri meu arquivo de frases. É um arquivo que tenho no computador e que me socorre sempre nessas horas em que estou com preguiça de escrever. São frases instigantes, curiosas, inteligentes, que vou juntando até que um dia elas possam servir para alguma coisa.

E para este domingo de preguiça, nada como uma boa sacudidela na felicidade, desafinando o coro dos contentes e atacando de pessimismo com o filósofo Émile Cioran (1911-1995). Cioran nasceu na Romênia, foi para a França com 26 anos e lá permaneceu até à morte, na convicção de que a condição de apátrida seria a melhor possível para um intelectual. Deixou vários escritos filosóficos sobre alienação, absurdo, decadência, tirania e temas semelhantes. Então, para você, neste domingo, alguns dos meus trechos preferidos de Cioran.

“Não existe diferença alguma entre os sonhos de um açougueiro e os de um poeta”.

“É o louco que existe em nós quem nos obriga à aventura. Se nos abandona, estamos perdidos: tudo depende dele, inclusive nossa vida vegetativa; é ele quem nos convida a respirar, quem nos obriga a tal, e é também ele quem empurra o sangue por nossas veias. Se ele se retirassse, ficaríamos sós!bNão se pode ser normal e vivo ao mesmo tempo.”

“Longe de mim o desejo de pervereter tuas esperanças: a vida se encarregará disso.”

“Se eu acreditasse em Deus, minha indiferença não conheceria limites: passearia completamente nu pelas avenidas.”

“Todo solitário é suspeito; um puro não se isola. Para desejar a intimidade de uma cela é preciso ter a consciência pesada, é necessário ter medo dessa consciência.”

“A função dos olhos não é ver, e sim, chorar. E para ver, realmente, é preciso fechá-los: é a condição do êxtase, da única visão reveladora, no momento em que a percepção se esgota no horror do já visto, do irreparravelmente sabido desde sempre.”

“Querer significa manter-se a qualquer preço em estado de exasperação e febre.”

“Tenta ser livre, morrerás de fome. A sociedade só tolera os servis e os déspotas. É uma prisão sem guardas, mas da qual não escapa ninguém sem perecer.”

“O pensamento é uma mentira, como o amor ou a fé. Pois as verdades são fraudes e as paixões odores; e, no fim das contas, a escolha está entre aquele que mente e aquele que fede.”

Finalmente a que mais gosto, e que se aplica muito bem ao dia de hoje:

“A única função do amor é a de ajudar-nos a suportar essas tardes dominicais, cruéis e incomensuráveis, que nos ferem para o resto da semana e para toda a eternidade.”





A Casa Rosa

12 09 2009
A Casa Rosa

A Casa Rosa

Acabo de assistir a um documentário muito bom. “Pretérito perfeito” (Brasil, 2008 – 71 minutos – Original Video), com direção e roteiro de Gustavo Pizzi, fala sobre a Casa Rosa, prostíbulo de luxo que teve sua época áurea no década de 1940 e que funcionava no bairro das Laranjeiras, na rua Alice 550, no Rio de Janeiro.

Como não conhecia nada dessa história fui à Internet, onde encontrei no site da Casa Rosa toda a história do edifício. O cabaré foi “…ponto vital na historia do Bairro das Laranjeiras e nas estórias de muitos que tiveram sua iniciação nos famosos quartos da Casa Rosa.” No documentário, vemos o cantor Lobão contando como foi isso, e mostrando o quarto onde ele pela primeira vez conheceu – do ponto de vista bíblico – uma mulher.

Cartaz de "Pretérito Perfeito"

Cartaz de "Pretérito Perfeito"

A Casa Rosa é um belo exemplo de arquitetura do início do século XX, tendo sido construído “… com o objetivo de agradar aos prazeres da alta sociedade, mantendo assim um padrão de qualidade em sua arquitetura e detalhes como azulejos portugueses e pinturas em azulejo ainda em exposição na casa.” A clientela era gente rica: comerciantes, políticos, magistrados e coronéis que por ali passavam.

Depois do seu declínio como bordel, no início dos anos 80, passou um tempo fechado e no fim dos anos 90 começaram a se realizar eventos de Forró e samba, como o Xote Coladinho e o Pessoas do Século Passado. Isso redundou na fundação de um Centro Cultural, que oficializou suas atividades em 2004.

Ivanilda

Ivanilda

Voltando ao documentário, ele é uma maravilha. Mostra depoimentos de antigos frequentadores e de funcionários; e pontuando toda a narração temos os depoimentos sábios e divertidos de Ivanilda Santos de Lima, que ali trabalhou como prostituta. É dificil imaginar que a respeitável senhora de meia-idade, bem acima do peso, de óculos de grau e vestida com simplicidade, seja a personagem das histórias que ela conta, de maneira divertida, ao entrevistador.

Além de tudo, o “Pretérito perfeito” (e viva o diretor, Gustavo Pizzi!) é técnicamente muito bem feito, fotografia linda, recursos narrativos excelentes e uma sensibilidade muito grande na abordagem de um tema como esse.

Recomendo.





O 11 de setembro

11 09 2009

No dia 11 de setembro de 2001 eu estava em Natal na sala de espera do consultório da Dra. Joaquina Fernandes Vieira, minha colega e amiga Quinquina, otorrinolaringologista que sempre dava um jeito nas minhas frequentes crises de sinusite. A um canto, lia um livro sem prestar atenção na TV quando vi que o noticiário havia mudado de tom e transmitia um incêndio em um edifício. Como o som da TV estava baixo, perguntei a alguém o que era aquilo. A pessoa respondeu “Parece que é um incêndio em São Paulo!” “Em São Paulo o que!” eu disse, me aproximando da tela. “Isso é Nova Iorque, e é o World Trade Center!” Nem bem eu havia dito isso, quando o segundo avião se chocou com a Torre Sul bem na minha frente e eu entendi imediatamente que aquilo devia ser um atentado. Aí, chegou a minha hora de entrar para a consulta.

Ao terminar, saí da sala da médica a tempo de ver o terceiro avião se chocar com o Pentágono. Ia fazer algumas coisas depois do consultório, mas resolvi ir para casa, e dirigi até lá sob o terror de que os Estados Unidos decidissem uma ação de retaliação que lançasse o mundo num holocausto incontornável.

Coxixola-PB

Coxixola-PB

Liguei para os meus irmãos, e a pergunta era: “Se houver algo assim, o que é que a gente faz?” E Pedro, que mora em Campina, e que não estava tão apavorado quanto eu, mostrou a solução: “Se a coisa pegar fogo, a gente evacua a família inteira para Coxixola.”

Mas por que Coxixola, perguntará o meu caro leitor? O que é Coxixola? Onde é Coxixola? Explico. Coxixola é uma pequena cidade, uma cidade mínima, que fica no Cariri paraibano, fazendo limites com Serra Branca, Congo, Caraúbas e São João do Cariri. É o menor município da Paraíba. É também a cidade natal da minha mãe e, talvez por ela sempre falar da sua cidade-berço com tanto carinho e saudade, sempre nos deu a idéia de um lugar escondido, inacessível, distante, protegido das desgraças do mundo, e ao mesmo tempo mágico, cheio de bucolismo, de lendas e de histórias, como se fosse São Saruê, a Terra do Nunca, o País das Maravilhas e a floresta de Brocéliande, tudo junto, reunido num lugar só.

Um pontinho no mapa

Um pontinho no mapa

Na década de 1960, aos quinze anos de idade, fui conhecer Coxixola e me encantei com o minúsculo lugarejo que, naquele tempo, era apenas uma rua, duas fileiras de casas, onde as pessoas mais velhas ainda se lembravam do meu avô Pedro Quirino. Sem muita coisa para fazer, naqueles ermos, divertia-me com as primas a explorar os arredores, e conversar com as pessoas. Foram dias que jamais esquecerei, andando sozinha pelos matos, vadeando riachos, subindo e descendo serrotes e ouvindo o grito das maracanãs quando passavam de tarde em revoada sobre as vazantes.

Quando queria aborrecer Mamãe, Papai fazia a maior gozação da cidadezinha, dizendo que Coxixola não aparecia no mapa. Mamãe ia buscar o Atlas e, com orgulho, mostrava o minúsculo pontinho perdido no meio do Cariri. Então, o que não diriam eles hoje se vissem a pequenina Coxixola na rede mundial dos computadores? Pois é, meu caro leitor. Coxixola agora tem status de município digital. Orgulhosa e faceira, mostra através de fotos e informações as suas prendas e riquezas.

Entrada da cidade

Entrada da cidade

Penso nos olhos da minha mãe, como brilhavam quando ela se lembrava do seu berço natal. A família foi expulsa do Cariri pela seca de 1927, quando foram todos para Angelim, Pernambuco, e onde ficaram até a vida adulta. Mesmo assim, quando chovia, meu avô voltava ao Cariri, para ver “tanta boniteza, pois a natureza é um paraíso aberto”, como nos versos imortais do poeta.

Herdei esse amor todo por aquela terra e Coxixola, apesar de continuar sendo um pequeno pontinho no Atlas, para mim sempre será um porto seguro inacessível a qualquer catástrofe, uma estrela plantada no meio do Cariri, no mapa do meu coração.