Você acredita em tudo que chega na sua caixa postal pela Internet?
Desde que o e-mail foi inventado que recebemos todo tipo de mensagens. Mães desesperadas enviando fotos de crianças perdidas, pedido de doações para crianças com doenças gravíssimas e que precisam fazer cirurgia, milionários africanos cujos milhões de dólares estão presos em alguma conta e que precisam de uma pessoa para ajudá-los a entrar na posse da fortuna. São histórias de rins arrebatados durante a noite, de cobras venenosas nas alfaces de um supermercado, de dinheiro ou celulares grátis se você enviar certa quantidade de e-mails.
Isso sem contar a enorme quantidade de textos com autoria atribuída a grandes nomes da literatura como Oscar Wilde, William Shakespeare, Fernando Pessoa e Clarice Lispector. Há ainda textos creditados a jornalistas e autores em destaque na mídia como Arnaldo Jabor, Luís Fernando Veríssimo ou Ariano Suassuna. Com o nome do último está circulando um texto sobre o forró de baixo nível, na verdade escrito pelo jornalista pernambucano José Teles.
É conhecido o poema Instantes, atribuído a Jorge Luís Borges (“Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros…”), poema cujo título original é I Would Pick More Daisies e cujo autor é Don Herold, tendo sido publicado em Seleções do Reader’s Digest em 1953. O curioso é que este autor, escritor, humorista e cartunista escreveu mais de dez livros mas sua obra mais conhecida circula o mundo atribuída a outro… O poema, impresso em poster na década de 1980 por um laboratório farmacêutico, foi largamente distribuído a médicos e eu mesma tinha um pregado na minha parede… até descobrir a verdadeira autoria. Fã de Borges, não quis compactuar com a impostura.
Um dia desses, numa palestra “motivacional”, a palestrante recitou um poema de Clarice Lispector que, como sabem aqueles que conhecem sua obra, nunca escreveu poesia. Mas o tal poema circula na Internet e pode ser lido normalmente ou da última para a primeira linha, artifício que provavelmente seduz as mentes mais simplórias, que o propagam.
Vi esta semana um anúncio da oficina de um artista visual onde ele estrutura todo o trabalho em cima do texto Você aprende, atribuído a William Shakespeare, mas que na verdade é da autoria de uma jovem norte-americana, Veronica Shoffstall, que o publicou em um livro de 1995 com o título Chicken soup for the soul. Quem conhece os textos de Shakespeare jamais confundiria a prosa elisabetana do século XVI com a escritura do Você Aprende (…Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma…) As pessoas que gostam desse texto ficam tao fanatizadas por aquelas palavras que são capazes de brigar se você afirmar que o texto não é da autoria do bardo de Stratford.
O último boato da Internet refere-se a uma suposta liminar que a indústria Monsanto teria dado entrada para proibir o Ministério da Agricultura de divulgar uma cartilha onde explica tudo sobre os alimentos transgênicos. A Monsanto não entrou com liminar nenhuma, a cartilha vai começar a ser distribuída amanhã pelo Ministério mas a notícia já rodou a Internet porque todo mundo, como diria minha mãe, “emprenha pelos ouvidos”* e adora demonizar uma multinacional. Veja os detalhes no blog DNAm dos biólogos Gabriel Cunha e Rafael Soares.
A lista é interminável, e se você quer saber de tudo o que é fraude que ocorre na Internet clique no excelente site Quatrocantos. É importante comprovar as coisas antes de sair espalhando por aí.
*A expressão “emprenhar pelos ouvidos” significa dar crença a tudo o que ouve sem questionar. No caso, a tudo que recebe por e-mail…
Ótimo alerta Clotilde, seria muito bom que todas as pessoas tivessem essa desconfiança. Sempre tive o meu pé atrás com essas coisas de internet, apesar da praticidade desse meio, continuo achando ele ainda muito vulnerável.
Abraço
Oi Clô…
Sdds de tu.
Realmente a internet, como terra-de-ninguém que é, é terreno fértil que só para este tanto de bizarrices.
E dá-lhe reenviar e-mail mundo afora, já cópia da cópia da cópia. E clica-se no forward sem nem pensar!
Eu, mineira que sou, sempre tenho pé atrás… checo tudo, tudo.
Oi! 🙂
Pois textos da Clarice saltam como “gremelins” na internet…
coisa de doido!
agora, nos spams está a solução de “todos os problemas”: impotência, obesidade, insônia, falta de cabelo, de orgamos, etc etc etc 😕
uma solução mais milagrosa que outra!
por isso, estou com você: fico com os livros.
Pior foi uma jovenzinha numa lista de teatro pedindo qualquer texto de uma tal de “Clarice de espectro”, porque ela queria montar!
Clotilde,
Até que enfim soube quem é o autor de Instantes. No meu site escrevi que a poesia não é de Jorge Luís Borges, mas agora vou colocar o nome do autor.
Obrigada pelo esclarecimento.